Negação

Recuso os que pensam como eu em seu meio. Recuso-me a mim mesmo.

Não quero e, de fato, não preciso aderir as existentes variadas ideias sempre complacentes entre si.

Nasci complacente, infelizmente. Usufruo de meus dotes para a divergência - e com bom gosto dos demais.

Crio as minhas verdades. Invento-as. Talvez seja um erro. O erro por si só é humano.

Saber que erra é admitir o óbvio.

Prazer? Nenhum pouco isso me causa.

Até em meu visceral descontento circular crio a minha arte.

Cedo-me aos objetivos mais banais. Causo-me prazer porque de nada tenho a ganhar. Não lá na frente. Caso não me satisfaça, mesmo que haja tudo para temer, nada tenho a perder senão apenas o pensar que perderei.

Presto-me a pensar: Inevitável pensamento que quando o alheio o invade, aborreço-me por não ser palpável, mas somente hipotético - Um hipotético abraço com a má intenção e a vergonha de despertarem-me a desconfiança.

Sou julgado pela minha mania de ser abstrato.

Pisam em minha sombra, e em mim a dor é despertada. Como um pesadelo dos mais terríveis.

Ah…Não... A dor me alimenta. Faz parte da minha arte, que de demasiado insuficiência preenche - ou tenta preencher - a minha vida - vida esta que é, com certeza, a insuficiência potencializada ao inquantificável.

Recuso-me a ser humano, mais uma vez. Isso é ser muito fácil.

Aderir ao difícil é caminhar na arte, na valiosa arte que tanto me esforcei para inventar: Para tentar preencher-me.

Talvez eu suba as escadas dos inventores e consiga, um dia, talvez, convencer alguém a descartar a possibilidade de que eu não passo de mais um simples louco convencional, e a ver um louco magistralmente insano, mergulhado na arte da loucura de dar um passo além de ser humano.

Não há delírio mais belo que, sob as palavras, os caracteres, as necessidades e o abismo da amarga humanidade, ainda sim conseguir não só renegar, mas também separar.

A negação alimenta a minha solidão subversiva.

Lá fora, cedo-me as infinitas necessidades e nutro-me do meu presente hoje, dos meus presentes futuros, e de minha origem passada.

EA
Enviado por EA em 06/07/2013
Reeditado em 01/06/2014
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