O meu problema com o discurso de “ordem publica”

Colocar algo em ordem significa colocar as coisas em seus devidos lugares, quando organizamos nosso quarto, por exemplo, colocamos as roupas espalhada pelo chão no armário, os livros na estante, as roupas intimas na gaveta...

Ordenar – no sentido em que empregamos nesse texto – significa colocar os objetos em seus lugares para preservar a harmonia de um sistema.

Toda arrumação que fazemos seguem seus critérios de organização, “cada coisa tem seu lugar”. Ninguém duvida que um omelete seja saboroso, mas com toda certeza todos acham repugnante a ideia de despeja-lo sobre o travesseiro, retomando aqui o célebre exemplo de Bauman.

Conforme dissemos, toda arrumação há de seguir um critério, organizamos nossas coisas por cores, propriedades e uma infinidade de características. Agora, com a máxima vênia, que tipo de critério seria seguido para essa tal “ordem social”? Vale dizer, se a sociedade civil é composta por pessoas a única organização que me ocorre é: colocar determinadas pessoas em seus determinados lugares.

“Mas o que você quer dizer com isso, Fábio?”

Quero chegar a conclusão mais óbvia e elementar, e para tanto vamos nos utilizar aqui da nossa zelosa Polícia Militar e a sua função de “manutenção da ordem”. Delimitando melhor nosso exemplo, vamos apurar a atuação dessa instituição em relação aos movimentos sociais recentes no Estado de São Paulo: Em resumo, a sempre respeitosa PM achou que seria divertido usar de seus brinquedos repressivos contra a população civil – que portava perigosos vidros de vinagre e cartazes semi-automáticos. Isso para não falar na atuação da Polícia Militar na favela, com o saldo de três mortos.

Isso é a ordem social, e a função dela é exatamente essa: Colocar inconformados desviantes em seus devidos lugares, para que não perturbem a normalidade da sociedade, para evitar mudanças e derrubada de estruturas cristalizadas. É que todo desviante, desde que o tempo é tempo, ameaça a autoridade. Nas palavras de Foucault “Em toda infração há um crimen majestatis, e no menor dos criminosos um pequeno regicida em potencial”

Normalmente são dos desvios de condutas que rompemos paradigmas, normalmente é com um anormal que se inicia qualquer revolução ou reforma, gente normal gosta das coisas como estão, gostam da ordem e a todo minuto incentivam a violência do Estado para sancionar esses “revolucionários subversivos”.

Ligando aqui os pontos: Se movimentos sociais, criminosos e desviantes desafiam a autoridade da lei, consequentemente ferem aquele que a elaborou, o Estado, e ameaçam uma ordem. Nesse sentido, a manutenção da ordem representa colocar esses elementos desviantes em seus devidos lugares, para que não ameacem a ordem e a autoridade, e consequentemente, para que não mudem essa pavorosa dominação dos hipossuficientes.

Aliás, a PM de São Paulo não tem a menor preocupação de ocultar o fascismo que pauta a sua atuação, vejamos as “grandes batalhas” das quais se orgulham (essas batalhas são representadas pelas estrelas de seu brasão:

Segunda estrela: Guerra dos Farrapos;

Quinta estrela: Guerra do Paraguai;

Oitava estrela: Campanha dos canudos;

Última estrela: “Revolução” de 1964;

Essas batalhas foram todas em nome da manutenção da “Ordem pública”, que estava sendo ameaçada pelos movimentos sociais, ou seja, manter a ordem social é manter, inclusive, os descontentamentos dos oprimidos. É manter os Almeidinhas em seu conforto, em sua segurança, em sua estabilidade, é proteger o cidadão de bem.

Não é novidade que o poder se consubstancia em si e só tem o propósito de se manter. Nessa linha, não é difícil chegar à conclusão de que qualquer coisa que ameace um Establishment de poder, pelo poder será perseguida e extirpada, já que o objetivo é acabar com a ameaça e manter a conservação. O poder mantém uma ordem para se manter no poder.

A manutenção da “Ordem social” é conveniente a qualquer governo, não só por uma questão de manutenção de dominação dos oprimidos, mas também para o próprio governante conseguir conservar seu poder.

Esse é um pequeno resumo dos motivos pelos quais sinto horror ao discurso do cidadão de bem ordeiro, a ordem – nesses termos – é impeditiva da mudança e sem mudança não se evoluí.

Deadeye Poem
Enviado por Deadeye Poem em 06/07/2013
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