Há tudo em nós

Sou intensa como a folha da arvore que encosta no telhado de uma casa em uma madrugada fria e silenciosa e faz um grande barulho,

Sou leve como um vento capaz de arrastar tudo pela frente sem ser visto,

Sou sagaz como uma formiga imperceptível que carrega incansavelmente aquilo que a sustem,

Sou tola como o grilo que tanto fala e na mesma proporção irrita,

Sou inteligente como a a águia que contempla tudo de cima, que cai mas nunca fica prostrada,

Sou sabia quando me calo,

Sou débil quando faço como um papagaio, e repito tudo que ouço,

Sou feliz quando trago luz mesmo quando todos reclamam do calor que isso provoca,

Sou trevas quando me faço pequena e permito que as nuvens encubram-me, impossibilitando minha visão,

Sou importante quando voo pelos jardins permitindo-me sentir as fragrâncias que as flores me dão,

Sou descartável quando escondo-me em um casco de perguntas sem direito a respostas,

Sou força quando peço ajuda,

Sou fraqueza quando carrego tudo só,

Sou vida quando vivo cada coisa no seu devido lugar, como ha de ser, como pode ser,

Sou morte quando perco a fé, a esperança, o vigor,

... Sou o bem e o mal...

... A ferida e a cura...

... A ponte e o penhasco...

... A ajuda e a derrota...

... Sou tudo e nada...

... Sou o que tem pra hoje, o que teve ontem, o que é clichê, sou o que quero, faço o que gosto, o que mandam, o que me convêm, sou a verdade, a mentira, ou o talvez, penso o certo, o errado, ou o que querem, me convenço, me permito, e me prendo, estou errada, me absorvo, inflijo a lei, digo isso, faço aquilo, o que tem? Tenho medos, anseios, e segredos, eu prometo, me arrependo, sou ninguém, sou a calma, a paciência e a ignorância também, faço o que gosto, o que odeio e o que indicam também, sou insana, sensata e ardilosa talvez, sou destino, sou herança, um erro de alguém, sou destreza, pureza, fraqueza, riqueza de aquém, sou moeda de troca, sou do meio do enredo de alguém, sou o enredo, o trecho a frase que falta, sou o personagem, o bicho, "a coisa" que sobra, sou eu, sou você, sou nós, a confusão, o furacão que destrói e corroí. Sou o réu, o juiz, o promotor, sou o que diz, contradiz, e condiz o que for. Sou a espera a entrega, o esconderijo do avaliador.

E mais uma vez eu digo sou eu, você e nós.

Diga-me reconheces aqui tua voz?

Você está aqui em cada palavra que não condiz,

Ah! Por certo é exatamente essa confusão, esse turbilhão, que há em mim.

Não me repreenda, nem me entenda, nem me defenda,

Se repreenda, se entenda se defenda,

Porque acabo de falar de ti, de mim, de nós...

Diga-me porque és tão igual a mim?

(...)

Jacielly Mello
Enviado por Jacielly Mello em 05/07/2013
Código do texto: T4373387
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