Felicidade simplória.
Faz algum tempo que venho procurando uma inspiração para escrever algo que realmente me satisfaça, porém não encontro a maldita em lugar algum!
Parece que ela está com medo de mim, porque sempre que por um segundo ela apareça, no segundo seguinte ela já sumiu.
É frustrante de certo modo, vendo que esta é minha terapia.
Então o que fazer quando nada se tem para que o faça bem?
Válvulas de escape? É... funcionam, só que não por muito tempo, ou seja, não é algo para se contar sempre. Nem a escrita, aliás. Mas é o melhor que tenho.
Então eu observei que costumo escrever apenas quando estou com sentimentos ruins ou felizes. Se estou apático, não tenho vontade de fazer nada, a motivação, não só para escrever, vêm de como estou. Se estou feliz, faço coisas felizes, se estou triste, faço coisas tristes.
Ficar triste? É fácil! Qualquer um consegue, mas apesar de ser muito produtiva, ao menos no meu caso, não me serve tão bem quanto estar feliz.
Ficar feliz? Bom... essa é a preocupação da minha vida.
Afinal como farei para realmente ser feliz? Sinceramente, não sei! Mas algum dia eu descobrirei!
Qual é a primeira imagem que lhe vem a cabeça ao pensar em felicidade?
Para muitos, rios de dinheiro. Para mim, digamos que sou mais simples.
Minha imaginação de felicidade começa com um lugar bonito. Um pôr do Sol perfeito, assim como costumamos ver em filmes, geralmente românticos. É numa estrada, que beira o mar. No alto. Como se fosse uma montanha. Vejo-me não em um carro conversível, como muitos homens, e talvez até mulheres, desejariam. Vejo-me dirigindo uma van. Seria estranho, se não tivesse minha mulher e dois filhos comigo. O porta-malas cheio e mais bagagens em cima do carro. Amarradas.
Uma música relaxante, num clima agradável, e todos rindo, como de costume. Minha esposa, a mais agitada de todas, se não fosse pelo tamanho, juraria que é uma criança.
E há quem diga que beleza não importa, mas também podemos dizer que eles estão mentindo.
Seus lindos cabelos loiros e lisos bagunçados pelo vento abundante que adentrava pelo vidro do carro em alta velocidade. Seu rosto de forma perfeita sincronizado com aquele sorriso que me dá vontade de que nunca saia de vista. Olhos azuis, penetrantes e extremamente sinceros. Sobrancelhas levemente curvadas - um toque irônico, eu diria - e uma voz que me acalma. Dois filhos lindos a quem devo tudo. Sara e Chris. A beleza? Teve à quem puxar, modéstia a parte.
O destino? Nunca foi possível definir. Definir objetivos, apesar de ser a minha carreira como Coach, nunca foi meu forte, na vida pessoal. É um contraste bem significativo. Torna tudo muito interessante.
Viver ao acaso, literalmente, nem que seja por alguns dias, semanas ou até meses.
Porém viajar, apesar de ser gostoso, não supera o conforto do lar. Jamais!
Após tanto tempo na estrada, todos cansamos. E ao voltar para casa e ver o sorriso no rosto das crianças é impagável!
É um prédio alto, no centro da cidade de Nova York. Janelas grandes, assim como a felicidade tê-lo como meu. Não é um apartamento no "estilo comum", se é que posso chamar assim. O elevador para no décimo sétimo andar e lá está a minha porta de marfim a me esperar. Coloco a chave na fechadura e torno a abri-la.
Logo vejo aquele lugar do jeito que sempre quis. O chão de uma madeira escura. A primeira coisa com que me deparo é um tapete branco e felpudo. Lindo. Gosto de me deitar no tapete. À direita da porta de entrada um balcão com um fogão e as panelas acima. Os banquinhos para sentar e as "pestes", como chamo meus filhos, carinhosamente, logo pedem algo para comer. Não lhes nego nada que eu possa fazer, errado, eu sei, mas não consigo, é impossível! Dou a volta no balcão, abro a geladeira e pego o leite.
- Querem ceral?
- Sim, papai!
Enquanto minha esposa guardava nossas coisas, preparei-lhes o cereal e tratei de começar a fazer o jantar. Gosto de cozinhar. Isso chamara a atenção no começo. Achou engraçado. Macarronada foi o prato escolhido.
Nunca fomos uma família de tradições, então comer na mesa também nunca fora adotado por nós.
Ia lhes chamar a atenção para que viessem buscar o jantar, mas vendo todos ali sentados assistindo à televisão, me derreti e resolvi fazer um gesto de bondade levando a comida à todos.
Com menos de dez passos à frente da cozinha chego até todos e me sento no tapete, o meu lugar preferido de toda a casa. Engraçado isso, pois tínhamos um sofá branco enorme atrás de nós.
Desenhos passando na televisão, como sempre, e só assim para fazer os dois nos dar um pouco de paz também...
Após terminarmos a refeição, levanto-me e me direciono para a mesa de estar, à minha direita, enquanto minha esposa lavava a louça. Tomava meu café e observava pela janela o mundo lá de cima. As crianças já haviam subido para seus quartos no andar de cima.
A convido para se juntar a mim, porém ela tem que tirar a roupa que colocara para lavar logo que chegamos e colocar no varal. De frente a porta ficaria nossa lavanderia. Embaixo da escada se encontrava o banheiro e à direita a dispensa, isso era uns dois passos atrás da porta da lavanderia. Fui até o banheiro, lavei as mãos e fui utilizar o computador para checar se não havia algo para mim. Sentei-me na cadeira e me posicionei à frente do computador, que ficava embaixo do segundo andar, que sim, não cobria o primeiro inteiro. Ao lado do computador um navio de madeira que trouxe do Brasil e mais ao lado alguns livros. Nós dois temos gosto pela leitura.
Passado algum tempo fomos, finalmente para o andar de cima, onde o chão mudaria para uma espécie de metal. O que nos separava de uma queda direta no sofá era um corrimão. Ao terminar de subir o último degrau nos deparamos com nossa cama, que na verdade é apenas um colchão no chão. Do lado dela um notebook no chão. Do meu lado uma xícara com café com leite e um bom livro. Atrás de nossa cama haviam os dois quartos das crianças. O do garoto, do jeito que pediu: Paredes azuis, com um tema espacial. O da garota, um pouco diferente, mas muito legal: Paredes brancas cobertas de posters, a não ser pela parede preta. Um violão velho no canto e uma mesa toda rabiscada e cortada. Belíssimo, dependendo do seu ponto de vista. Este eu mesmo ajudei a fazer.
Toda noite antes de dormir conversamos. Conversamos sobre tudo. Isso nos mantém mais próximos, sabe? Ultrapassa aquela rotina, afinal nunca sabemos o que vai sair da boca do outro na próxima conversa. Somos amigos acima de tudo.
E é algo mais ou menos assim que eu imagino que me faria feliz. Simples.
E então... como é que você imagina sua felicidade?