Outra noite que se vai

Mais uma noite se desdobra e eu não consigo rejeitar o convite de até onde o pensamento quer me levar.

A noite está se findando e eu já vou desistindo de tentar alguma coisa nova. Não que seja tarde, mas já está duro demais suportar todas essas horas sem ao menos um sorriso.

O que eu quero dizer, é que, essencialmente, ás vezes passamos o dia todo ansiosos pra que alguma coisa aconteça, sem nos darmos conta de que as coisas acontecem melhor e mais rápido, quando naturalmente. Acontecem, quando estamos distraídos e nem-aí-pra-o-que-foi-ou-deixou-de-ser.

A vida é dura mesmo. Mas e quem disse que eu sempre quis o lado mais fácil? Talvez por isso, insistentemente, levei um tempo a mais pra alcançar essa percepção.

É contundente e inevitável ficar arredio a espera de uma notícia boa, mas sair as nove da noite depois de uma ligação inesperada sempre foi o meu forte; digo, eu não esperei por nenhuma daquelas ligações; mas foram minhas melhores recordações desde que eu tive de passar a esquecer de outros melhores momentos, que só eram doces e impenetráveis na minha cabeça; e, embora eu estivesse dilacerado demais pra aguentar as últimas três horas que ainda restavam antes de começar outro dia, bastou um sinal teu pra que eu largasse tudo e fosse te esperar. De novo.

Quando a gente tá apaixonado as coisas são outras. A vida é menos dura. O pior é quando a gente se machuca e abre mão das vendas. E aos poucos vai descobrindo que aquele sorriso não foi por mal, nem por amor.

Que o jeito é preparar um chá de camomila e valeriana, se acalmar e deixar que a vida passe por debaixo do pano da rede. Assoviar, cantarolar e fechar os olhos quando o sol bater. Esperar até que a lua apareça e o sono volte gradativamente, noutro desdobrar de noite. Junto dos pensamentos. Mas longe de tudo. De todos.

O natural, hoje, já me basta.