Eu, por mim mesmo
Não sou anjo; e jamais ousei parecer ser. É nítido que não possuo asas, auréola, vestidos alvos, cabelos cacheados e, tampouco, sei voar - a não ser em meus sonhos - se é que são assim os anjos verdadeiros.
Não sou um capeta; e jamais desejarei ser. Não tenho cauda, orelhas pontiagudas, caninos extravagantes, não sou vermelho e não há chifres em minha testa - não que eu saiba - se é que são assim os capetas, fora do imaginário coletivo.
Sou humano.
Construído de carne, ossos, nervos, músculos, sangue, órgãos, células, membros, personalidade, caráter, desejos, ambições, conflitos, dúvidas, qualidades, muitos defeitos e uma ebulição de sentimentos.
Nem sempre sou coerente, por vezes sou contraditório.
Escrevo sobre o amor, mas me pego duvidando que ele possa existir, no sentido mais completo desta palavra, entre homens e mulheres - excetuando-se o amor entre pais e filhos e o soberano amor de Deus. É uma teoria particular, a qual não ouso convencer a ninguém. Nas coisas do espírito, vislumbro amor. Nas coisas da carne, sou mais convencido pela paixão. E devo dizer que amo estar apaixonado.
Às vezes, posso parecer o "poeta encantador", mas meu ofício não é este. Talvez eu seja um bom malabarista com as palavras e, isto sim, pode encantar. E devo confessar que gosto quando encanta. É como um elogio a um filho meu. Mas, a verdade é que, de perto ou de longe, sou costurado de defeitos. E é bom que me vejam assim, para que se evite quebra de expectativas ou estigmas sem fundamento.
Estou satisfeito em ser humano.
Sigo vivendo, carregando meus fardos e meus troféus. Se há algo traiçoeiro em mim, é o meu coração. No entanto, ainda assim, ele é o melhor lugar, em mim, de se viver.