Melancolia
Dos sonhos de outrora despertamos a melancolia onírica com beijos nas memórias nostálgicas que dormem no passado sob o véu da morte. Mundos se afloram sob as moléculas do corpo, revivendo a ilusão nobre de realidades que há muito se dissiparam por entre as linhas invisíveis do tempo. A realidade tornou-se uma quimera excêntrica incognoscível que liquefaz o encéfalo deixando-me sob à companhia latente da enxaqueca. Sensações desconhecidas pulsam pelos labirintos de meus nervos cerebrais, ostentando na refulgência de meus olhos o sinônimo de uma criança perdida e temerosa. Acorrentando pela pusilanimidade de meu seu, apenas empreito a vida nas garras do umbroso e incisivo desejo de expirar-me.
Ah! Sonho com dias em que o mundo seguirás seu rumo sem minha percepção deficiente para adorná-lo com falácias e escárnios que só existem dentro mim. Tornei-me em trevas quando meus olhos viram a inocência de criança se perder pelos horizontes escuros e profundos do ser. Neste pélago lamacento de mim mesmo, tento fitar a luz que refulgi no final do túnel, mas não consigo, e meus olhos passam a doer mais que na escuridão em que passo os meus dias.
Sinto no peito ânsias profundas que diluem a vontade-de-vida, mergulhando-me no pântano pútrido de mim mesmo, acompanhado dos vermes que devoram paulatinamente a essência nobre e inocente da criança que um dia. Não dói-me pensar na morte misteriosa; dói-me profundamente ver os pássaros cantarem e não poder apreciá-los, dói-me ver as paisagens preenchidas de preto e branco, dói-me estar morto para vida e saber que além dos arames farpados de minha realidade, o mundo trilha lindamente…
Longe das sombras aurorais das manhãs calorentas, escondido por trás do sorriso mentiroso que ostento, fico à minha própria sorte, preso no labirinto de mim mesmo, na noite aterradora dos meus pesadelos…