Déjà vu

Disse-me de mim meia dúzia de vitórias. É meu modo de me lembrar ou de achar que tudo que fiz valeu. E deveras valeu. Poderia até ter sido melhor, mas não sei como o teria sido. Na dúvida, fico feliz com o meu “tá legal assim” e acredito no “ano que vem melhora”. Sobra expectativa nisso, viu? É que preciso me arrumar desculpas para aguentar; para não entrar em pânico nesse espaço pequeno. Não caibo mais em mim. Não caber em si é quando tudo é déjà vu; quando nada mais, para o bem ou para o mal, é surpresa ou susto e coração já não se dá o trabalho de mudar de velocidade.

O confortavelmente estável não me apraz mais. Já foi. Já serviu. Não serve mais. Morro de saudade do risco, do novo, do “ir lá”, do “fazer assim mesmo”, de responder “Claro que sim. A gente dá um jeito” quando me propuserem “Que tal amanhã?”. Ouvi dizer que existe um sistema cerebral que controla nossa capacidade de obter prazer nos planos a longo prazo. Ou o meu deu defeito ou existe um limite para esse prazo. Existe pouco prazer agora, sabe? Quero ser maior e é para ontem! E o mais difícil nisso tudo é viver o hoje. Como viver o hoje se o que se quer é obter o prazer de amanhã ou, quem sabe, retornar ao prazer de ontem?

O fato é que, nessa permanência toda, eu estou pronto para ir e, na verdade, até escolho um destino, mas percorro o caminho que tiver. Nutri-me do que tinha por aqui, mas a evitação da retirada, concordam alguns colegas, não é boa coisa.