Viajante Errante
Dos umbrais das lembranças ocultas, fantasmas de outrora experiências despencam-se como cascata sobre minha existência. A subsistência do passado morto aflora-se sob a pele calafrios nostálgicos carregados de um sentimento tortuoso. A mente conexa intimamente aos mundos das lembranças esquecidas faz do subconsciente um palco para criar experiências teatrais de mundos os quais nunca experimentou. A ilusão lhe prende amarras que o tornam escravo de um mundo que nada mais é que a si mesmo… Então a ilusão se desfaz, e lhe deixa com o gosto amargo na boca, como sinônimo da ausência das coisas que ama, e que na vida material já não existe mais…
Navego errante por estes caminhos espinhosos, vez ou outra encontrando rosas que alegram a vida, mas que machucam os dedos com seus espinhos como se dissessem que não foram feitas para serem colhidas, apenas observadas.
Sou como viajante solitário, com sua mochila sempre feita para partir, seguindo de mãos vazias e coração confiante, levando comigo somente o que julgo ser importante. E em cada esquina da vida onde encontro um ser especial, carrego comigo ínfimos detalhes de sua existência, mesclando assim, minha humilde essência às experiências e ensinamentos que cada ser compartilhou comigo. Sou uma mistura de todos. Sigo divagando pela vida, confundindo a vida com a realidade onírica, perdido em meio aos caminhos infinito do universo, sentindo saudade de um lugar que desconheço, sentindo saudade de experiências que não vivi, sentindo saudade de um mundo o qual não existi… Minhas fontes de alegria e sofrimento sempre foram colhidas de fontes diferentes dos outros, pois minha vontade não mora nesta vida, e sim na paz que dormem os mortos, ou na inexistência dos não-nascidos.
Pois que não se apeguem uns aos outros, estamos todos de partidas, de mochilas feitas rumo ao desconhecido…
De volta aos sonhos reencontro meus queridos amigos, todos sorrindo e de mochilas desfeitas, esperando que eu expire para descansar junto deles no memorial da existência e ser confundido à morte no desconhecido mundo das lembranças…
“Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos
Tudo o que há dentro de mim tende a voltar a ser tudo.
Tudo o que há dentro de mim tende a despejar-me no chão,
No vasto chão supremo que não está em cima nem embaixo
Mas sob as estrelas e os sóis, sob as almas e os corpos
Por uma oblíqua posse dos nossos sentidos intelectuais. “
Fernando Pessoa