Inverno.

O edredom possui teu cheiro e as lembranças do inverno passado. Eu quase posso te ver ao meu lado, e se fechar os olhos posso sentir tua mão segurando a minha enquanto assistimos a um episódio qualquer de Grey’s Anatomy. Porém, desta vez você não está por perto. Tua voz não está sussurrando nenhuma palavrinha doce em meu ouvido, eu não tenho o teu calor para me aquecer e nem teu sorriso que me faz esquecer de todos os outros problemas.

A esta hora, enquanto eu assisto TV sozinha no sofá da sala e devoro uma barra de chocolate meio-amargo (o nosso favorito), você provavelmente está no meio do trânsito de Sampa. Mastigo o chocolate com pressa, preocupada contigo. É início de inverno, está chovendo e a temperatura aí deve estar bem mais baixa que aqui… 15ºC, talvez? Você, tão esquecido, deve ter deixado o casaco na sala do apartamento quando saiu de manhã para ir até a faculdade.

Já passou do horário que tu costumas ligar e eu já liguei milhares de vezes pro teu celular. “Este telefone está desligado ou temporariamente fora da área de cobertura”, é tudo o que ouço. Isto me tira do sério. Nem presto atenção na tela da televisão. Só penso em você. Meu homenzinho estudioso que passou em Medicina e teve que sair do litoral pra ir estudar onde sempre sonhou. Meu garoto que faz com que eu me sinta uma princesa, mesmo eu sabendo que não sou uma. Meu menino idiota que não sabe contar piada, mas que me faz rir como ninguém.

De repente, uma retrospectiva forma-se em minha mente. O tempo voou, né? Eu nunca pensei que algum dia ficaríamos juntos, nunca mesmo. E agora, no entanto, quero logo que o próximo ano chegue para que eu possa estudar contigo aí na capital. Vai ser tão melhor que agora, vai ser tão perfeito… e, enquanto eu penso, o telefone toca. Paro imediatamente de mastigar e corro para atender, antes que minha mãe ou meu pai ou minha irmã ou meu cachorro ou qualquer pessoa que não seja eu atenda ao telefonema. A ansiedade para escutar aquela voz de anjo me domina de tal forma que eu seria capaz de morrer se não a escutasse. O inverno seria mais frio se eu dormisse sem escutar o típico “eu te amo” que ele sussurrava sempre antes de encerrar a ligação.

Lillian Cruz
Enviado por Lillian Cruz em 22/06/2013
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