Queimada viva

Incinerada. Queimada viva. Sinto a dor da morte se aproximar. Num suspiro, deixo esse mundo. Mas, até certa medida, fui feliz, pois morri de dor de nascer.

Eis minha libertação. Queimada viva nas ideias. Sinto morte em vida. Vida em morte. Cada dor é uma poesia. Minhas vísceras estão expostas.Todos podem vê-las.

Morri de dor de nascer... Incinerada nas ideias. A ardência não atormenta, mas incita. Todos os músculos incitados e excitados. Minha maneira extemporânea e quem sabe atemporal não se encaixa nessa caixa que é a vida limitada pelos cinco sentidos. Quero voar para fora de mim, de meu corpo. Tive uma experiência assim.

Vi-me o corpo deitado sobre o sofá e senti a consciência retornar à cabeça. Incinerada nas ideias, dor de concepção. Concepção de ideias. Retorno às ideias como se retornasse às origens. Sejam os bóssons de higgs ou a centelha divina. Sinto a reconstituição da minha identidade como parte de um todo, um microcosmo existe dentro de mim. Uma pequena amostra de um Uni - verso reside em mim. Não me encaixo no espaço, nessa caixa tridimensional, sequer na quarta dimensão. Não me encaixo no tempo... Preciso de mais dimensões, ou melhor, nenhuma. Gostaria de ser adimensional, infinita e transcendente.Vida limitada pelos cinco sentidos é pobre, vida limitada pelos vocábulos também é de uma miséria imensa. Quero viver como se fosse uma deusa que observa o movimento tolo dos mortais.