OS CENTAVOS A MAIS
Aumentou o preço da banana. No supermercado de minha cidade estava a R$ 0,89 e passou para R$ 1,49. Não é um absurdo? Mesmo assim, tenho visto gente pegando pencas de bananas e levando no carrinho para pagar no caixa. Todo mundo come banana, mas ninguém se importa com o preço. Do lado de fora, nenhuma manifestação contra o aumento do preço da banana.
Também outros preços estão sempre aumentando. Lembrem-se do tomate. O salário-mínimo aumenta a todo ano. O povo não gosta de pagar mais, mas se conforma e acostuma.
Mas por que o aumento das passagens urbanas causa tanto protesto? Não é um aumento como qualquer outro?
Uma parte da população parece ter um potencial de rebeldia latente, prestes a explodir a dado momento. O que falta é o pretexto. O pretexto pode ser insignificante, mas é a gota d'água que faz transbordar o copo. O aumento dos preços das passagens de ônibus parece ser um motivo convincente e justo. Tantas forças se unem para desencadear a quebradeira. Tanta gente querendo ser notícia. De quebra, aproveita-se para saquear caixas eletrônicos, se possível.
Tudo aumenta de preço. Mas não pode ser qualquer aumento o motivo de tanta manifestação. Imaginem multidões saindo às ruas para protestar contra o aumento do preço da banana. Não, banana não serve. Tem que ser o aumento do preço das passagens, porque é um motivo para começar incendiando os ônibus, depois vem a quebra de vitrines, de carros estacionados. Unidos, todos ficam empolgados, sentem-se fortes, nada como um arrastão para desafiar a polícia.
O preço da banana pode até cair, como caiu o preço do tomate, mas o preço das passagens de ônibus não cairá. Depois que as hordas extravasarem sua necessidade de violência, irão se acalmar por um bom tempo, tomando ônibus todos os dias, pagando a passagem para viajar de pé e apertado.
Como não ando de ônibus, gastei meus trocados comprando umas bananas. Aceita uma?