A BELEZA NÃO ESTÁ NA PAISAGEM, MAS NA PERSPECTIVA...

AO DIZER: “A beleza está nos olhos”, a ideia é enfatizar a perspectiva do observador e não apenas a natureza do objeto observado. “Nos olhos de quem vê”. Isso porque a felicidade consiste mais na contemplação do que na obtenção. “Ver” as coisas é algo simples, um processo automático e dependente apenas da atuação do sentido visual. “Contemplar”, todavia, é uma distinta arte refinada com treinamento e prática.

O verdadeiro sabor da eterna novidade não reside somente no olhar para diferentes paisagens, mas, sobretudo, no olhar com diferentes perspectivas para a mesma paisagem. Este é o preciso antídoto da emoção aplicado contra a irreversível perda da excitação. O deleite não está simplesmente no cenário, mas na capacidade de desfrutá-lo. Olhar é com os olhos. Desfrutar é com o coração. Assim, a mais notável beleza é aquela vista pelos "olhos" do coração. É no foco que se extrai a mais sublime e abundante satisfação!

E por falar em foco, lembro-me de um evento envolvendo o personagem Pedro, o apóstolo de Cristo. Diz o relato divinamente inspirado que em certa ocasião Pedro viu seu mestre caminhando tranquilamente sobre a água. Imediatamente, tomado por forte comoção, sentiu-se impelido a juntar-se a Jesus na mesma triunfante caminhada. Nasceu em seu íntimo o desejo de sobrepujar o ‘impossível’.

O gentil mestre fez o convite: “Venha”. Naquele instante, ninguém disse a Pedro que ele jamais conseguiria realizar tal façanha. Nem ele mesmo cogitou a amarga derrota. Em seu coração, havia um só pensamento, um só refrão: “O mestre pode, eu posso”. E lá se foram os primeiros passos. Um, dois, três, quatro... A euforia tomou conta de Pedro. Quem diria! Aquele homem comum, imperfeito e sem quaisquer dotes sobre-humanos, caminhando confiantemente sobre o escorregadio terreno aquático. Seus olhos radiantes estavam fixos no ilustre mestre.

Todavia, uma forte tempestade ganhou a atenção de Pedro. Não há alusão se a dita tempestade teve início repentino ou se já estava em pleno andamento. O fato é que, de súbito, o ruído da tempestade – aos ouvidos de Pedro - foi maior do que as palavras de Jesus. Pedro ensurdeceu-se em sua confiança. Os olhos se viraram para os estrondos do violento temporal. O medo estremeceu suas pernas. Um abismo aquoso se formou debaixo de seus pés. Ventos de dúvida sacudiram seu corpo. Pedro começou a afundar. Só não morreu afogado porque solícitas mãos lhe foram prontamente estendidas. Pedro se agarrou em Jesus e foi novamente levantado. A lição? Foco. Enquanto os olhos estavam voltados para a face do mestre, êxito. Porém, ao concentrar-se na tempestade, derrota.

“A beleza está nos olhos de quem vê”. O poder de superação também. Coragem ou medo, confiança ou incapacidade, muito depende de para onde estão direcionadas as pupilas da decisão. Foco. A tempestade está em andamento, é real. Ninguém está livre das aflições. A dor é inevitável. O que faremos com ela, opcional. Afundar diante dos problemas ou pelas águas da angústia caminhar, tudo depende de para onde iremos olhar. Para as preciosas oportunidades estendidas pelo mestre? Ou para os ameaçadores trovões gerados pela tempestade? Os olhos são as “janelas da alma”. O grau de abertura? Escolha. Receptáculos de luz ou tentáculos de escuridão? Opção.