CONFISSÕES DE UMA ALMA ATORMENTADA
Tenho mantido certa distância de tudo. De tanto ser julgada, aprendi a não julgar. O que não me tira o senso crítico. Às vezes teço comentários querendo, na verdade, uma opinião sobre minhas próprias opiniões. Noutro dia resolvi dar palpite. Fui duramente castigada. Que raios eu tenho a ver com a vida alheia? Logo eu que vivo me arrastando a procura de respostas, consumindo-me num lamaçal de indagações e autocomiseração. Sou o pior algoz que me concederam. Não espero reciprocidade. Ajo por mim, egoísta que sou. Cada um que ache seu próprio caminho. Ultimamente ando chorando pelos outros. Almas que tanto estimo. Procuro me manter por perto. Sei lá. Talvez possa ajudar. Quanta pretensão. Além de egoísta, pretensiosa. Mas fico ali: nem tão longe nem tão perto. Escuto, suporto, tolero. De vez em quando me perguntam: “Por quê?” Não sei. Ainda não acabou, tenho que ficar, respondo. O difícil é sair. Não me ensinaram o momento. Mas saio enquanto ainda me resta dignidade. Dela não abro mão: egoísta, pretensiosa e orgulhosa. Faz um tempo que ando vendo as coisas de forma estranha. Tudo me comove. Chato isso. Eu que raramente chorava agora me derreto. E fico me perguntando até quando, meu Deus... Até quando? Egoísta, pretensiosa, orgulhosa e incompreendida. Ser incompreendida não é defeito, é punição. Justo. Com tantos defeitos precisava ser punida. Mas há os que me compreendem melhor do que eu – o que não é difícil: sou óbvia e previsível. Ridiculamente fora da realidade. Mas tenho me deixado ser. Nunca havia me permitido ser. Agora simplesmente sou. Entreguei-me ao que tanto me atormentava. Embrenhada em minhas aflições seguirei caminhando, dilacerando meu peito todos os dias. Que seja. O começo está próximo.
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