Roteiros e Diálogos
E eu gritei alto, e eu cantei e cantei o mesmo refrão perdido no tempo, inúmeras vezes, como qualquer descoberta de uma música boa... “Eu tô ficando louca”- eu te afirmava, com todas as forças e verdades bem definidas. Você ia embora, e eu ia pra rua. Eu inventei um tempo diferente, para que desse tudo certo. Tudo certo no sentido de nenhum apocalipse zumbi na nossa história, tudo certo para nenhum desastre no nosso romance. Não adianta, eu sei, eu sei. Quando a única certeza era a de que você era quem escrevia o nosso roteiro. Cantei o refrão com alma, no mais alto e bom som. Já não funciona quando é você quem define os diálogos. Já não adianta quando é você quem calcula as próximas palavras que eu vou dizer. Mas eu estou viciada, e escuto a música horas sem parar. E agora eu sou a música e ela está em mim. E eu te repito e eu te repasso. Eu dou play em você seguidas vezes, enquanto eu aumento o teu volume em mim. E você toca intensamente. Me deixa falar, não toma conta assim de mim. “Vem e me colore, não me rabisca não.” Eu insisti, eu te pedi. Você foi, mas não voltou. Eu te assusto com meu afeto. Já vi pessoas não gostarem de músicas, mas você sempre foi imprevisível. A música que não gostou da pessoa.