Nada Agradável
A tristeza te consome tão traiçoeira, veres tudo totalmente distorcido, sem luz no fim do túnel. Costumaremos à isso? Nos limitaremos até o nosso resto de vida? Perambulamos nas ruas, sem esperança, olhando as outras pessoas e não vendo sequer uma razão. Os sorrisos já não são mais contagiantes, é uma chaga! O vento não tem mais importância, os carros passam quase nos atropelando e isso não nos faz chacoalhar. Estamos à um fio, vem de dentro assim tomando conta, sem percebermos, e nem o pior desespero nos faz enxergar a suavidade com que podemos sair dali.
Os dias vagarosamente vão perdendo a graça, o dia perde a luz, parece que todo o momento das 24h é escuro, nos deixando ainda mais presos à nossa própria nostalgia. A rotina trava e você já não se vê fazendo outra coisa a não ser obedecer à monotonia, de uma maneira lenta e obrigatória, sem interesse algum, se deixando levar, indo como a onda do mar, realmente bem traiçoeiro não é? Você se vendo escravo da própria solidão, indo conforme sua tristeza se alastra ao seu redor. Não se questiona mais sobre o por quê de tudo acontecer, você realmente se entrelaçou a desilusão e não vê outra hipótese de se soltar, e ainda continua não fazendo questão alguma.
A acomodação não te dá motivos para pensar, você já tem meio que uma conclusão, e só espera lentamente que os dias se acabem, um atrás do outro, sabendo sua trilha, de acordar e se desiludir com a suposta luz do dia, não vê graça em viver, em comer qualquer coisa que seja, pois você está na espera de ser levado logo. Não se incomoda em que momento virá depois, simplesmente vai pro sofá, liga a TV e não se importa nenhum pouco com o que está passando, somente deixa seus olhos guiarem-se pelas imagens que se passam à sua frente. O dia vai passando e você nem percebe mais, é tudo um só, que nem divisões existem mais ao seu ver. Chega a tarde e é como se ainda continuasse de manhã, só que com o sol um pouco mais intenso, o que te deixa meio fora de orbita, mas a preguiça se encarrega de você não se mover para se sentir um pouco que seja realmente incomodado.
Você está completamente acorrentado, não há o que fazer, a vontade de falar já não existem a dias, e isso não te preocupa nem um pouco. Você só se sente ou quer está na reta final o mais rápido que puder, ou até que não, seus pensamentos já foram domados por um único objetivo, o de não se rebelar contra nada, nem mesmo contra você. E ai se vem a noite, que realmente é o momento mais aparente com o que você está lidando. Você percebe a diferença que teve entre a tarde ensolarada e parada e a noite trazendo consigo o sentimento pioneiro da solidão, que acarretou tudo até então. Onde ela bate na sua porta toda noite, e você sem se questionar a deixa entrar, para não se sentir mais só do que o normal, uma metáfora que criaste para ter um motivo. Motivo este que não sai da sua cabeça a semanas, estando na espera que alguém faça por você. Ir até a cozinha, pegar àquela faca e enfiar-lhe no coração à dentro, só para que tudo aquilo acabe finalmente. Porque pior do pensar em se matar de imediato, é se matar a cada dia um pouco, e um pouco, esperando sem hora de chegada, pelo fim concreto. Pelo tão esperado fim sem volta.