UM POETA INQUIETO
O poeta tem pressa. Vê a vida fluir tal qual
um rio que não retornará à nascente jamais. É um coração esvaziado, solto
e se não insistir em
percutir como o bumbo não sobreviverá.
O poeta vê a vida no retrovisor. Antecipa-se
aos eventos. Não teme as desditas, devora-as sem triturar.
No afã de ter seus desejos manifestos
arquiteta o universo tão harmoniosamente como
se pretendesse fazer dele seu paraíso.
O poeta arruma seu dormitório em desespero. Faz
do seu abrigo a caverna que vai desabar sobre sua própria
cabeça.
No apogeu do afã classifica
os pergaminhos em que expressa as ideias, exprime
as palavras em alto relevo e sepulta-as no baú da alma.