UM POETA INQUIETO

O poeta tem pressa. Vê a vida fluir tal qual

um rio que não retornará à nascente jamais. É um coração esvaziado, solto

e se não insistir em

percutir como o bumbo não sobreviverá.

O poeta vê a vida no retrovisor. Antecipa-se

aos eventos. Não teme as desditas, devora-as sem triturar.

No afã de ter seus desejos manifestos

arquiteta o universo tão harmoniosamente como

se pretendesse fazer dele seu paraíso.

O poeta arruma seu dormitório em desespero. Faz

do seu abrigo a caverna que vai desabar sobre sua própria

cabeça.

No apogeu do afã classifica

os pergaminhos em que expressa as ideias, exprime

as palavras em alto relevo e sepulta-as no baú da alma.

Joel de Sá
Enviado por Joel de Sá em 04/06/2013
Código do texto: T4325037
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.