Hand in hand.

Era a primeira vez que eu te via depois de longos meses sem ouvir a sua voz rouca e sem ver seus olhos que de tão azuis podiam ser confundidos com o mar. Era estranho pensar que, se fosse noutra época, eu não conseguiria passar sequer uma semana longe de você.

Sem hesitar, me aproximei de você. Logo senti o cheiro daquele mesmo perfume que você usava desde sempre – ou, pelo menos, desde que eu te conheci. Prendi a respiração, temendo o estrago que aquele cheiro adoravelmente seu poderia fazer comigo. Foram meses tentando tirar da minha cabeça (e do meu coração) qualquer lembrança sua, meses numa rehab de amor, e eu não podia deixar que um simples aroma fizesse com que todo o meu esforço fosse por água abaixo.

Desisti da ideia de me aproximar e continuei caminhando sem rumo sobre a grama macia daquela velha praça. Subi no meio-fio e comecei a andar por ali, mas logo me arrependi. Sem a minha permissão, minha mente se encheu das recordações de quando eu era desequilibrada o bastante para só conseguir andar pelo meio-fio quando você segurava a minha mão. Chacoalhei a cabeça rapidamente para afastar o pensamento e tentei prestar atenção em qualquer outra coisa.

Tentativa sem sucesso. Meus olhos só queriam ver você. Notei que seu cabelo estava diferente, sua pele parecia um pouco bronzeada, mas a camiseta que havia por baixo da jaqueta de couro era aquela do Nirvana que eu sempre achei linda em você. Coincidentemente, eu também estava usando a minha – que seria idêntica à sua caso não fosse feminina. Sorri sem querer ao notar que os tênis All Star em seus pés eram tão surrados quanto os meus.

E então você me viu. Virei o rosto, mesmo sem saber se você havia ou não me reconhecido. Apressei meus passos e, quando pensei que estava longe o bastante de você, ouvi aquela voz que eu conseguiria identificar seja lá onde estivesse.

- Ei, espera! – você chamou. Minha mente dizia “vai”, enquanto o coração sussurrava “fica!”.

Como já era de praxe, fui tola o bastante para seguir meu coração. Olhei pra trás e não pude impedir que um sorriso bobo se formasse em minha face quando vi que você sorria. Com a aproximação, seu cheiro começou a me inebriar novamente.

- Lembra quando a gente andava de mãos dadas por aqui? – você perguntou, pegando minha mão e segurando-a entre a sua. Eu sentia falta da sensação de ter sua pele contra a minha.

Tentei responder, mas não encontrei minha voz. Desta forma, contentei-me em assentir com um aceno de cabeça. Uma risada baixa escapou por entre seus lábios, fazendo com que eu recordasse as tardes que passávamos contando piadas sem noção e rindo como se aqueles fossem os nossos últimos dias de vida.

Pensei em soltar sua mão, mas você não permitiu. Assim, continuei caminhando ao seu lado. Não resisti e deixei que todas as lembranças invadissem minha mente. Era fácil lembrar das doces noites de verão, quando deitávamos na grama daquela mesma praça e ficávamos felizes somente por estarmos juntos vendo as estrelas dançarem pelo céu. Vez ou outra você depositava um beijo em qualquer parte do meu rosto e era sempre correspondido por mim. Mesmo com tanto tempo longe, eu ainda podia sentir o sabor dos seus lábios de mel. Era uma das coisas que eu mais sentia falta.

- Foi tão difícil ficar longe de você – sussurrou; por um momento, tive a sensação de que você estava lendo os meus pensamentos, mas logo recordei que você não tinha esse poder.

Antes que eu pudesse encontrar minha voz e pensar em algo para responder, você capturou meus lábios num daqueles beijos inesquecíveis, daqueles que conseguiam ser suaves ao mesmo tempo em que eram de tirar o fôlego.

- Eu ainda te amo tanto – sua voz foi um murmúrio sôfrego. – Vamos dar uma segunda chance à nós? Por favor…

Não precisei responder para que você soubesse a resposta. Meu sim estava explícito em minha face, no meu olhar, no sorriso bobo em meus lábios e no meu coração que batia forte e fora de ritmo.

Lillian Cruz
Enviado por Lillian Cruz em 03/06/2013
Código do texto: T4323814
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