Uma procura

Eu procuro o complexo dos sabores experimentados ao mastigarmos a cultura que o ser humano enxerga. Procuro, pois, a tristeza contida nos sonetos da Florbela, bela enriquecendo e fazendo de seu sofrimento arte a ser contemplada. E as crianças brincando de casinha na calçada, assim como um estudante tuberculoso que vai para escola com fome. Os abraços apertados após a espera de mais de dez anos de saudades. Qualquer tipo de infelicidade é uma eterna procura com a vida. Eu procuro por gente de verdade, que ao me encontrar na esquina grite o meu nome ou ao menos sorria. Procuro a necessidade de ser apesar de ser humano. E procuro ser humano apesar de ser. A língua portuguesa e essa belezura de jovem que escreve, a melodia do Chico ou um verso do Caetano. As piadas da mamãe ou o cheirinho de comida da vovó. A eterna procura pelo amor perfeito, pelos amigos e procurar por si próprio. O dom de cantar, eu iria recitar se fosse a música rítmica na poesia da Cecília Meireles. Ai, poesia!

O complexo dos sabores experimentados por essa gente. O quanto engolirmos e nem se quer mastigamos. O quanto damos descarga sem se quer reutilizamos. Eu procuro os destroços e qualquer ruína. Procuro, até que um dia também procurem, até que um dia também não achem.

Tayla Ferreira
Enviado por Tayla Ferreira em 02/06/2013
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