E SE A VERDADE FOSSE APENAS MIRAGEM?

NO ÚLTIMO ensaio, abordei a respeito dos reflexos do relativismo sobre a sociedade moderna. Desta feita, gostaria de refletir um pouco mais sobre a inata busca pela verdade que acompanha esta ontológica espécie desde os primeiros passos até os seus últimos suspiros...

Ora, pensar que a verdade é inatingível, tem um efeito altamente castrador para o intelecto; é como um “balde de água gelada” lançado contra a chama interior que clama pela verdadeira descoberta acerca desta existência.

É como dizer a um alpinista que o pico do monte, ao qual ele tão veementemente busca atingir e direciona todas as suas forças, simplesmente não existe, ou que não pode ser alcançado. É como dizer a um atleta de maratona, que tão dedicadamente se preparou para a vitória, que a linha de chegada está obstruída e que, portanto, não pode ser cruzada. É como dizer a um garimpeiro que o ouro, tão arduamente procurado, não passa de uma brilhante miragem inexistente entre toneladas de cascalho e lama. É como dizer a uma mulher que acabou de dar à luz ao tão aguardado primeiro filho que ela nunca poderá segurá-lo no colo e nem tampouco conduzi-lo ao aconchego de sua casa. É como dizer ao apaixonado, que não importa o quanto lute, jamais terá em seus braços o grande amor, a quem por ele também corresponde e anseia...

Não, a verdade não pode ser um fim inacessível. Isso seria terrivelmente desastroso e angustiante. É preferível, além de mais lógica, a franca ideia de que a verdade existe e que merece o esforço da indefectível espreita. Iniciamos uma ‘viagem’ e desejamos concluí-la até o destino almejado. Atiramos uma ‘flecha’, na forma de dedicação a uma causa escolhida, e esperamos que haja um ‘alvo’ real que possa ser atingido. Este desejo é parte intrínseca da natureza humana, ou seja, damos um começo para qualquer empreendimento e esperamos que exista uma conclusão, um remate, uma satisfatória consumação.

Quem é que ao comprar um terreno para construir a tão sonhada casa própria se contentaria em residir entre estacas fincadas no solo demarcando um terreno vazio sob o imaginário teto de uma obra arquitetada apenas no âmbito do fictício? Ou quem é que ao comprar um carro se conformaria em simplesmente receber a chave sem, porém, ter livre acesso ao veículo adquirido? É como pegar um livro para ler e perceber que ele não ultrapassa do capítulo introdutório, pois suas páginas finais, logo as principais, foram arrancadas. Um prólogo sem nenhum epílogo. Ficar pela metade do caminho porque simplesmente ‘não existe nada além do caminho’ é deveras desanimador, não acha?

A inexistência da verdade significaria para nós a inexistência de propósito. Afinal, faria algum sentido alguém se lançar ao mar se não houvesse um destino, ou porto seguro, no qual atracar? Cavar um poço profundo em busca de água fresca, se o mesmo poço fosse inteiramente seco, sem qualquer água para se tomar?

É claro que ela existe. É necessário que exista uma verdade, sem a qual nada faria sentido. O tudo ou o nada, a conquista ou a derrota, o sucesso ou o fracasso, a compreensão ou a ignorância, a empolgação da descoberta ou a decepção da perpétua dúvida não fariam a menor diferença SE não existisse uma verdade; se tudo fosse relativo, mera especulação, ou simples concepção, de mentes humanas; cada qual dando a sua própria versão parcial para a verídica história que compõe a existência...

Não desejamos que ocorra conosco o que o escritor e companheiro Augusto Cury expressou: “Choramos ao nascer, sem compreender o mundo em que entramos. Morremos em silêncio, sem entender o mundo de que saímos...”.

Por outro lado, a perspectiva da verdade é o que nos cativa a viver. É o motor propulsor da mais distinta hombridade. Buscá-la é o que dá sabor à vida. Encontrá-la é o que dá valor a cada gota de suor, ou cada partícula de labor, gastos durante a tão intensa procura...