Olhar Perdido

Aqui estou eu, em um lugar tão calmo e bonito, ah! Eu me sinto muito bem aqui. Consigo sentir o cheirinho de terra molhada e posso observar as pequeninas gotículas de orvalho sob a grama verde limão; obviamente foram deixadas ai pela noitinha enquanto todos dormiam.

Senhores e senhoras de uma idade bem avançada andam de braços dados com suas enfermeirinhas de 20 anos. Os pés quase não saem do chão, o cabelo branquinho como nuvem em dia ensolarado e as rugas de expressão bem marcadas.

Do lugar onde estou posso enxergar um corpo estendido no chão, alguém dormindo provavelmente. Um corpo enrolado em uma manta xadrez e ao lado deste corpo somente enxergo uma sacola preenchida de latinhas amassadas.

É impossível não ouvir o evidente barulho de crianças agitadas, as babás acompanham as pequenas crianças que andam saltitando e rindo ao léu.

Pedro,

Sabe qual é o mais interessante disso tudo? A minha mente. Preenchida de porquês impossíveis de se responder, trabalhando explosivamente.

Me pergunto o quão triste é ter tanta juventude e logo depois ver seus músculos falhando e seus ossos fragilizados. Esses senhores um dia já foram tão jovens, ágeis e independentes. Será que eles imaginavam que um dia iriam precisar de ajuda para praticamente tudo? Eu penso que não.. As pessoas nunca pensam no futuro, nunca pensam que os cenários mudam, as estações, as músicas.. Tudo muda e é substituído por coisas novas.

Como já te disse.. O tempo trata de corroer tudo.

Pensei também nas crianças, filhas do capitalismo. Os pais estão preocupados demais com os seus salários que se negam a cumprir o papel de pai, de conselheiro e guardião. Em vez de estar presente, pagam para que o façam. Pobre dos pais, que esperam conquistar riquezas perdendo os primeiros passos de seus filhos, os trocando por cédulas de papel, e é ai que me lembro dos velhinhos solitários, talvez eles tenham sido um dia esses pais que jogam seus filhos para o cuidado de outros e que na velhice são jogados nas mãos das enfermeirinhas.

O pobre rapaz que dorme estendido no chão, eu penso que ele é o próprio conceito de liberdade. Ele não é preso em nada, aposto que não pensou em contas antes de dormir ou mesmo em terminar de pagar a casa própria.

Triste e livre esse pobre rapaz, que passa o dia sendo ignorado pelas madames que passeiam com seus cachorrinhos.

Cheguei a uma conclusão:

O desamor faz parte da rotina das grandes cidades.

Yrinna Brito
Enviado por Pedro Hartmanns em 29/05/2013
Código do texto: T4315627
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