Quando as "EVIDÊNCIAS" obscurecem a LÓGICA...

SOBRE A CAMA, lá estava o marido, há dias envolto num desconfortável leito de enfermidade. A esposa, em pé diante de seu companheiro de longa data. O Doutor, especialista com louvável graduação e pós-graduação, bem ao lado.

A notícia não era nada boa. Após exibir inúmeros papéis, “evidências” contendo fartos resultados de exames realizados, eis o bombástico anúncio: “Senhora, minhas sinceras condolências. Fizemos todo o possível, no entanto, o seu marido não aguentou e... sinto muito, ele faleceu precisamente às 22hs37min... Lamento informar-lhe, seu marido está morto! Aqui estão o laudo e o atestado de óbito”.

Neste exato instante, o marido – tomado de atordoante assombro pelo que acabara de escutar – imediatamente ergue um dos braços e antagonicamente protesta: “Não, não, isto não é verdade! Trata-se dum terrível engano... eu não estou morto. Estou com dores e um pouco tonto, mas vivo! Vejam, posso me mexer, posso até falar com vocês! O Doutor apenas ordenou-me que ficasse em silêncio para poupar as escassas energias, mas...”.

A esposa o interrompe. Furiosa, retruca: “Ei, seu insolente, que falta de respeito! Cale a boca. Você não tem o direito de contestar o Doutor... Não ouviu o que ele acabou de assegurar? Você está morto... e assim é que deve ficar! Simplesmente aceite seu compulsório destino. Conforme-se com a sua trágica sorte”.

O marido ainda tenta emitir a tréplica defesa de sua convicta vivência, porém, novamente é abruptamente silenciado. “Mas é óbvio que você morreu. Não está vendo o já emitido laudo científico? A perícia afirmou, o prognóstico clínico asseverou e eu não duvido! Só me restam agora providenciar o seu caixão e o enterro...” – proclama, em sacro prenúncio profético, a fervorosa e resoluta mulher. O que era para ser somente um quarto para momentâneo repouso se transformara em antecipada câmara mortuária.

E depois? Induzido por tamanhas e excessivas certezas, após ter sido atingido como um raio pelo mórbido ambiente fúnebre que embebia-lhe por inteiro - como se estivesse num inalienável “cárcere” de fatalidade, amargando o prévio antegosto defronte da irrevogável execução - o coração de repente não suporta; sucumbe, enfarta. E o marido morre...

Por favor, caríssimo leitor, reflita nisto. Deixo, por sua própria tarefa, as múltiplas implicações e aplicações deste descritivo cenário à vida moderna...