Experiências e filosofia barata.
Muitas são as reflexões que fazemos sobre a vida. Você que está lendo este texto agora com certeza já parou para pensar sobre seus últimos dois ou três anos; pensar no que aconteceu, do que se arrependeu, das oportunidades perdidas e dos ganhos. Pessoas mais sensíveis pensam muito, analisam sua vida minuciosamente, sofrem mais e se entregam até de forma exagerada. É o famoso “entrar de cabeça em tudo”, atitude muitas vezes acertada.
Antes de mais nada penso que este site, dando espaço para que as pessoas escrevam textos tão diferentes quanto bonitos, abre um precedente extraordinário: nos permite escrever em primeira pessoa. Recebi alguns e-mails de leitores que se diziam surpresos com a minha coragem em escrever de forma tão aberta sobre meus sentimentos. Outros me diziam preferir textos mais informais, geralmente escritos em terceira pessoa. Esta discussão não vai dar em nada, claro, porque quem escreve determina assunto, pessoa e ritmo de leitura.
Mas a discussão torna-se interessante quando analisamos o grau de entrega das pessoas àquilo que fazem. Conheci muita gente na vida. Uns eram a paixão a flor da pele. Se entregavam, explodiam fácil, amavam ao mesmo tempo em que odiavam e viviam seus dias como se fossem os últimos. Outros, mais contidos, preferiam o silêncio à palavra. Analisavam, tomavam suas próprias decisões e sempre mantinham uma dose de política em suas relações. Vi que temos de aprender a conviver com personalidades tão diferentes porque no fim nossa vida é a soma de todas as desigualdades com as quais nos deparamos ao longo dos dias.
Sempre que posso apelo para a filosofia barata. Não sou filósofo, mas, enfim, não é ele quem pensa a vida? Pois então, ao propor-me, neste espaço, pensar as minhas relações nestes meus trinta anos de vida, faço um achado das experiências que vivi e organizo-as para que se tornem um texto. Complicado? Não, não é complicado. Basta que você viva a vida de maneira intensa e depois a descreva da mesma maneira, ou seja, mostre aos outros que sua vida fez e faz sentido.
Vivemos com base em duas variáveis: os fatos determinados à nossa revelia e os fatos que determinamos. Se temos pouco controle sobre nosso viver, sem dúvida que pessoas alheias à nossa vontade determinarão muito do que vai acontecer conosco. Se ao contrário, você toma frente da situação, muito provavelmente você determinará os rumos que seguirá nos anos que virão. É sempre assim.
Mas e quanto ao confronto entre realidade e fantasia? Não sei qual a dose exata colocada na mistura da racionalidade e da irracionalidade. Sei que agir por instinto muitas vezes faz com que tenhamos que desprender tempo na correção do rumo que estamos tomando. Mas também sei que quando pensamos demais acabamos, muitas vezes, por não tomar decisões importantes. Se a vida nos permite exagerar e voltar atrás, qual o sentido do conservadorismo? Nenhum, acredito.
Defendo o direito de as pessoas se entregarem por completo a tudo que fazem. Sou completamente avesso às manobras que pessoas conservadoras fazem para evitar o sofrimento. Não vejo sentido em evitar algo que nos é inerente. Por isso mesmo passo a confiar em uma pessoa a partir do momento em que constato que ela se entrega á amizade ou ao trabalho com todas as suas forças. Se você conhece alguém com estas características, o único trabalho que terás é o de controlar o ímpeto desta pessoa. E isso se consegue, sim, mas ao longo do tempo, principalmente quando a experiência se acumula e muda os conceitos dos impetuosos.
Mais uma vez apelei para a filosofia barata em um texto. Não tenho vergonha disso. Não sou escritor e nem vivo desta profissão. Não sou, muito menos, filósofo. Quero apenas usar este espaço para dividir com as pessoas um pouco das experiências que vivi ao longo dos anos. Sentir-me embaraçado por dispor de alguns sentimentos seria renegar a nada tudo aquilo que penso. Por isso se você acha que não faz sentido viver de maneira completa e teme o julgamento, lembre-se que os que julgam negativamente são os primeiros a mostrar seus defeitos, e os primeiros a serem expostos à maldade das pessoas.