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REFLEXÕES

Na minha idade, certas coisas trocam de lugar, e as que antes eu achava que eram importantes deixam de ser, e outras que eu costumava ignorar, tornam-se importantes. Tudo o que fiz durante meus anos de juventude, começa a aparecer; os excessos, e também os cuidados: as horas dedicadas ao exercício físico, à boa ou má alimentação, ao sedentarismo, ao tipo de leitura e lazer aos quais eu me dedicava e a maneira como tratei das coisas do espírito.

 

Tem gente que gosta de dizer que a idade não importa. Eu acho que elas cometem um erro. A idade importa sim, e para mim, é preciso prestar atenção à passagem do tempo e à maneira como nossos valores vão se transformando, e nossas vidas, se adaptando às novas idades.

 

Ficar mais velha nos faz pensar que, quanto mais longa for a nossa vida, mais nos aproximaremos da morte. E eu confesso que olho para esta inevitável senhora sem nenhum medo ou ressentimento, pois para mim, ela é apenas mais uma etapa da vida. Acho estranho o assunto morte ser considerado tabu entre as únicas criaturas que sabem que todos vamos morrer.

 

Eu não acho que a vida fica inevitavelmente mais 'maravilhosa' só porque eu estou mais velha. Não acredito nessa coisa de 'melhor idade.' A vida pode ser uma cadela, a qualquer momento, em qualquer idade. Mas também pode ser maravilhosa a qualquer idade.

 

O que eu realmente penso sobre envelhecer, é que não é divertido, não é maravilhoso, não é a melhor idade, não é a idade em que todo mundo passará a nos respeitar mais e nos achar uma gracinha, perdoando nossas faltas, e nem é a idade na qual devemos nos recolher e olhar a vida passar, sem intrometer-se muito nas conversas de família numa tentativa de que tolerem a nossa presença. Acredito que se tivermos respeito por nós mesmos, as pessoas nos respeitarão mais quando envelhecermos; se não nos colocarmos na posição de titios, vovós ou vovôs bonzinhos e bobinhos, que ficam extasiados toda vez que alguém mais jovem nos diz que somos uma gracinha e nos trata como bebezinhos, as chances de que não sejamos vistos como tal aumentarão consideravelmente.

 

Se eu ler, me informar, tiver uma conversa interessante, cuidar da memória exercitando meu cérebro e tomando remédios se necessário, terei uma grande chance de continuar ocupando um lugar importante no meio da minha família e entre os mais jovens. Basta que eu não vista o estereótipo da velhinha bonitinha e coitadinha, como esperam inconscientemente que todos façamos. E sempre que alguém se referir a mim de maneira desrespeitosa, ou desconsiderar uma opinião minha alegando que eu estou velha, eu não posso deixar passar! Não posso me acomodar e fingir que não percebi! É exatamente nessa hora que torna-se essencial levantar a voz, aprumar a postura e contestar, dizendo: "Quem você pensa que é?" E jamais, mas jamais, concordar em mudar-me para o quartinho dos fundos dentro da minha própria casa!

 

Acho importante também que possamos cuidar da vida financeira, fazer planos para que tenhamos uma renda que nos deixe independentes - parte que tenho negligenciado totalmente... mas vou providenciar. Minha mãe fez até plano funeral - o que eu não faria, pois quando eu morrer, que se vire quem estiver vivo. Acho que eu serei merecedora de um pequeno investimento dos que me cercam a fim de proporcionar-me uma última morada para meus ossos. Ou joguem-me aos cães, doem-me à medicina, não me importo.

 

Envelhecer não é uma delícia, não significa entrar na melhor idade, e muito menos, tornar-se mais sábio; mas é inevitável e natural, e deve ser encarado como tal.


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Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 23/05/2013
Reeditado em 23/05/2013
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