PROPÓSITOS e VONTADES - O PERFEITO DUETO da emoção...

NAVEGANDO sobre as ondulações de meus pensamentos, pus-me a indagar: O que são, de fato, propósitos? Para que servem as vontades? A quem devo dar primordial atenção: às vontades ou aos propósitos? Qual é a diferença essencial entre eles? Como sobrevivem no mesmo oceano, um sendo o tufão carregado de emoção e o outro, o barco à vela que anseia chegar ao porto da decisão, mas que teme pelo prematuro naufrágio diante da amarga frustração?

Sem delongas, eu diria que as vontades representam as paixões, que vêm e vão... Bolhas de sabão. Belas e fúteis. Intensas e fugazes. Vorazes...

Por vezes, perigosas, enganosas, ilusórias, traiçoeiras. Cruéis rainhas subversivas disfarçadas na fina pele de prestimosas amigas. Falsas promessas de felicidade total, transmutadas, quando consumidas, em desilusão real...

Mas não quero ser injusto. As vontades, muito necessárias se fazem. Sem elas, não teríamos sonhos, almejos, desejos. Sem elas, o ‘prato’ da razão tampouco teria tempero, gosto, sabor, deleite. Sem elas, seríamos meros subordinados da fria e crua obrigação. O que dizer então? Dar ouvidos a todas elas? Não! Subjugá-las e restringi-las por inteiro no calabouço da completa privação? Também não! O excesso nos escraviza. A ausência nos deprime.

As vontades são como afiadas flechas no arco da atuação. Como tais, elas podem ferir, podem machucar, podem até matar. Todavia, se forem corretamente lançadas na direção do alvo, e a ele acertarem, nos farão vibrar... celebrar...exultante alegria poderão proporcionar!

Falando em alvo, é nele que se justifica a importância dos propósitos. Sua existência é que define a direção das vontades. São os propósitos que as norteiam e as tornam necessárias. Sem propósitos, as vontades seriam ‘flechas soltas’ lançadas ao mesmo da imprevisão. Seriam barcos à deriva no vasto mar do acaso.

Sem propósito, o corredor não teria uma linha de chegada para justificar a largada; a corrida perderia a sua razão, como o Sol escuro sem nenhuma função.

Sem propósito, a nossa vida seria reduzida a um simples ciclo de começo, meio e fim. Um fim no traçado do tempo sem fim no pleno alcance do elevado objetivo. O forçoso término de uma árdua partida de mesa por falta de peças, e não pela conclusão da derradeira vitória. Um cansativo percurso sem sentido.

Uma longa jornada sem término. Um funeral de deliciosos sonhos embrionários que morreram sufocados no ventre na vaga intenção sem nunca conquistarem a permissão da completa eclosão. O enterro de um corpo envelhecido em cujo interior residia a eterna vocação de um espírito recém-nascido...

Propósito abandonado, descartado, desintegra-se como um precioso vaso de cristal jogado ao chão. É o caríssimo preço imposto pela desistência. A dolorosa consequência pela covarde negação.

Vontades. O que seríamos sem elas? Propósitos. Que importância teriam as vontades sem a sua razão de serem, sem a sua causa de existirem? Vontades são areias, diminutas e ao mesmo tempo fortalezas que seguram o avanço dos mares. Propósitos são as rochas, duras e ao mesmo tempo flexíveis; esculturas feitas pela consistência e insistência das águas. Notáveis obras de arte, pacientemente tecidas pelo perseverante sopro dos ventos.

Propósitos e vontades. Direção e satisfação. Eis o perfeito dueto da mais completa e refinada arte da emoção...