Cheiro da minha Infância
Na correria da minha manhã...
Senti um cheiro que há muito não sentia
Cheiro de merenda, de massinha
De giz de cera e de cantina...
Fechei os olhos e por um instante
Lembrei do varal da arte, dos crachás
E dos trabalhos na estante.
Sorri sozinho, sem saber o porquê do que me lembrei,
Vi meus dentes no espelho
Lembrei do paninho vermelho
Sujo com sangue do dente que eu arranquei...
Feliz eu era com aquela janelinha
Era Deus e criava com massinha
Fazia pic-nic ali no pátio da escola
E no recreio brigava e jogava bola.
Era rico e não sabia
Riqueza contada em figurinha
Que no bolso com zíper eu guardava
Riqueza bagunçada
Mas que me fazia a alegria
Nas tardes de frio e chuva,
A Tia sempre contava historinhas
Viajei da Raposa e as uvas
Até Cigarra e a Formiguinha
Desenhei nuvens azuis e presentes pro Papai Noel
Brinquei de Lego e a minha imaginação foi a companheira
Fiz da minha mão pincel
E ainda não cansei das brincadeiras
Se eu pudesse voltar, até esse passado distante
Parava o tempo e voltava, pra esse ponto por um instante
Trocava o terno pelo uniforme com lista do lado
Trocava a inocência por esse mundo regrado
Voltaria a ser criança que não importava o que eu falasse
E que só acabaria quando o sinal tocasse.
Angelo Moraes