Ser ateu, materialista, cético, realista e naturalista


Ser ateu, materialista, cético, realista, racionalista, humanista e naturalista não me faz melhor, é verdade. Não quero ser melhor, não é digno ser melhor do que ninguém. Ser ateu, materialista, cético, realista e naturalista apenas me ajuda a ler o mundo com meus próprios olhos, sempre duvidando a princípio do que meus olhos veem, e da interpretação inicial que minha mente dá a leitura que faço do mundo. Possibilita-me ter a coragem e a ousadia de fazer todas as perguntas, mesmo aquelas que possam ferir sensibilidades crentes, pergunto, não pelo prazer de ofender minha busca, pergunto, pois busco respostas, e para tal. a racionalização me faz um questionador. Pergunto para ter mais algumas perspectivas. Faz-me não crer em autoridades do saber, faz-me não crer em revelações, livros sagrados, ou doutrinas secretas ou populares, faz-me não aceitar nada a princípio, sem racionalização, venha de quem vier. Faz-me um eterno buscador, faz-me atento a não confundir desejos com verdades. Ser ateu, materialista, cético, realista e naturalista faz-me ter a certeza de que as certezas são utopias, mesmo esta certeza. Faz-me duvidar de tudo que não seja natural, físico, químico, biológico, mental ou social. Faz-me duvidar de tudo que não seja redutível a matéria e energia, que não seja redutível a natureza. Faz-me entender que a verdade não depende de mim, que a verdade não é relativa, que a verdade não está na evidência superficial dos fenômenos, e nem também na interpretação mental direta do percebido, mas sim nas engrenagens e nos mecanismos escondidos no submundo muitas vezes não percebidos diretamente por meus sentidos. Faz-me entender que a moral e a ética, estas sim, são relativas pois dependem de valores e valores são qualidades pessoais, e que mudam de lugar para lugar, de sociedade para sociedade, de tempos em tempos, mas faz-me entender que independentemente de meus valores pessoais, devem existir valores sociais que devem ser defendidos e mantidos mesmo que pessoalmente não sejam valores que muito aprecie. Faz-me entender que preconceitos são parte da vergonha humana que aceitamos. Faz-me finalmente parcialmente imune a doutrinações e a transformações de homens bons em maus pela cega realização de ensinamentos e pela intolerância que a crença em ser dono da verdade e único defensor da moral e da dignidade humana fazem dos crentes um perigo em potencial quando doutrinados com a finalidade de defender uma moral que acreditam ser única.
 
Mas antes de ser Ateu, materialista, cético, realista e naturalista, sou animal, sou um humano em plena decadência de nossa humanidade, sou mais um verme social. Sou antes um homo sapiens, pois filho e neto de homo sapiens tenho que sê-lo, e a evolução me fez imperfeito, falho e múltiplo, assim uso de meu ateísmo, meu materialismo, meu ceticismo, meu realismo e meu naturalismo para tentar sinceramente entender um pouco mais de mim mesmo e assim entender um pouco mais dos irmãos em espécie com que divido este planetinha, em plena jornada de destruição por nós mesmos e de nós mesmos.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 18/05/2013
Reeditado em 29/06/2013
Código do texto: T4297610
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.