TEMPUS FUGIT
Estamos condenados à temporalidade como Cristo pregado na cruz. Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será. Ao desfazer meus 28 anos, descobri que compartilho do mesmo pensamento que muitas pessoas da idade crepuscular, conhecida também como velhice: Tempus fugit, o tempo foge. O tempo é como um fruto que vai sendo comido: é belo, é colorido, é perfumado. E, à medida que vai sendo comido, vai acabando. Vem a tristeza. O tempo da vida se marca por alegrias e tristezas. Há inícios e há fins. Tempus Fugit; o tempo foge. Portanto, Carpe Dien: colhamos o dia como um fruto que amanhã estará podre.
Não duvido ser verdade o que disse, como se fosse um oráculo, o maior dos poetas: “Pequena é a parte da vida que vivemos” (Virgílio). Não que temos uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa. Creio, que ninguém deixará que lhe roubem o carro, o celular, a carteira ou a casa, no entanto, permitimos que nos roubem o tempo e os conduzimos a isso. Não se encontra ninguém que queira dividir sua riqueza, mas a vida é distribuída entre muitos! Somos econômicos na preservação de nossas posses, mas desperdiçamos o tempo, a única coisa que justificaria a nossa avareza.
Vivemos como se fossemos viver para sempre, e nunca nos ocorreu o pensamento sobre a nossa fragilidade. Não posso mais desperdiçar o tempo. Não quero chegar ao meu quinquagésimo ou sexagésimo ano e tomar as sábias decisões e, a partir daí, mostrar desejo de começar a viver. Olhar para trás e perceber que não vivi nada é angustiante, pois “enquanto as pessoas são ainda jovens ou menos jovens e a partitura de suas vidas está somente nos primeiros compassos, elas podem compô-las juntas e trocar os motivos, mas quando se encontram numa idade mais madura, suas partituras estão mais ou menos terminadas, e cada palavra, cada objeto, significa algo diferente na partitura de cada um” (Milan Kundera).