Mentira amarga.
- É claro, a garota é a minha utopia - disse ele aos amigos firmando a voz rouca num tom irônico e sentindo seu estômago se revirar com as mentiras que lhe escapavam dos lábios.
Secou a garota dos pés a cabeça novamente enquanto tragava seu último cigarro com força. Passeou com seus olhos por cada milímetro daquele corpo ligeiramente magro sabendo como lidar com cada letra transmitida por sua linguagem corporal. A perfeição chegava a lhe soar como uma ofensa.
Seus olhos transbordavam malícia, mas seu sorriso era meigo. A combinação perfeita, o contraste inteligente.
A língua afiada de uma mulher e a gargalhada limpa de uma criança.
Bastava que um sorriso lhe rasgasse os lábios, para que o garoto se arrepiasse.
Ele se sentiu impotente diante desta reação e amoleceu por alguns segundos antes de reorganizar seus sentimentos falsos dentro do peito.
Irritado, tragou seu cigarro pela última vez e se convenceu de que aquilo já não lhe acalmava, pois agora, só lhe restara o filtro.
- Eu a odeio - murmurou em tom estúpido, crispando os lábios - Odeio.
- É claro - resmungou o amigo ao seu lado revirando os olhos - Nós sabemos o quanto você realmente a odeia.