Respeitável Público...
O mundo anda assim, estranho, ninguém se importa...
Mas era assim ontem, só me esqueci...
As pessoas estão indiferentes, não olham para o próximo...
Mas sempre foi assim, só não estive aqui antes para constatar...
Estamos a tempos no mesmo palco encenando a mesma peça,
Dançando a mesma música...
A peça se chama vida e nela, todos os atores tentam forçadamente
Interpretar um papel tentando convencer outros atores de que são de verdade...
A música se chama tempo, e tocamos tão repetidamente, que já não
Sabemos o que foi tocado, o que será tocado, tão logo acaba logo recomeça,
Tem sido assim desde o começo deste teatro...
Os atores tão acostumados a encenar, continuam a fingir mesmo após a apresentação,
Chegando a acreditar na mentira, não lavam mais seus rostos, a mascara já faz parte do dia a dia...
Soa esquisito, incômodo quando alguém a remove em público, os atores ficam incomodados: - você age tão natural, tão natural que deve ser imoral...
Ser você, dizer a verdade, ser honesto, fazer o que é certo...
Deveria ser natural, já foi visto como heróico, hoje é tolice...
...
E não sei como será visto amanha, não sei...
Os homens estão acostumados com suas máscaras, às usam o tempo todo,
Como fosse sua própria face, superfície superficial, de plástico, cerâmica ou outro material nada tem de epitelial, nem qualquer outra camada sentimental...
Há tal ponto que falar de alma arremete à religião, que é nada mais que outro tipo de escuridão, pois aquele que não consegue ver à luz é pássaro que não sabe voar ou peixe que morre afogado...
Em um teatro onde todos encenam seus papéis, sem capacidade de convencer nem a si mesmos, é uma peça fadada ao fracasso, mas ainda assim ela lota as casas de show...
Todos preferem vê-la, nada fazem mesmo, melhor assistir então...
Já sabem todas as cenas, de indiferença, sangue, choro e lágrimas, de cenas pirotécnicas sem razão, de crimes sem punição...
E sabem também como é a melodia, já gravaram, sabem cantar de cor, mas nunca prestaram atenção no que diz a letra...
É uma peça com final triste, que recomeça amanha, assim que acordar, quando você acordar...
...Eu sei, você sabe, todos sabemos como começa, como acaba...
E mesmo assim, amanham, todos recomeçamos, afinal o show tem que continuar...
Mas até quando?
...