Desesperança e decepção
"A humanidade está ordinária" como tão constantemente fala minha doce avó. E eu, completamente tola, agradecendo a Deus que muitas vezes não é assim, que podemos ter contato com pessoas gentis e dispostas a ajudar quando nem bem a conhecemos. Agradeci a Deus por terem batido ontem na lateral direita inteira do meu carro, por um celular simplesinho ter caído no esgoto e ter encontrado gente amigável para de lá retirá-lo, por eu ter pego carona com dois estranhos para a delegacia na qual eu deveria fazer o boletim de ocorrência de acidente de trânsito -em que Graças a Deus, os danos foram meramente materiais- e não ter sido estrupada por nenhum desses homens. Agradeci quando cheguei em casa. Falei com meu namorado, sorri pelo dia de azar e dormi.
Acordei e me deleitei em direito penal, acreditando nas boas pessoas que eu havia conhecido no dia anterior. Foi quando meu irmão perguntou onde estava meu celular novo, que eu tão pouco usava. Meu Nokia lumia que custara exatos 494,00, dinheiro esse que saiu do meu salário mínimo de estagiária. Quase nunca me permito esses luxos, com tecnologia, mas precisava desse para consultar meus e-mails e recanto das letras com maior rapidez e uma vez ou outra dá uma olhadinha no meu Facebook -que agora se encontra desativado. Procurei na minha bolsa umas mil vezes, no meu carro amassado outras mil vezes. Poderia ter sido pior.
Ah pouco tempo atrás, em uma ligação com meu namorado, eu agradecia por tudo que estava me acontecendo, me acostumando com a minha viagem cotidiana para a faculdade, conhecendo gente interessante, indo a academia, estagiando em um bom escritório. Três dias depois, de madrugada, meu pai que é diabético, ficou com baixa taxa de açúcar no sangue, caiu no chão inconsciente. Nós o levantamos e lhe alimentamos. Ele melhorou, mas permaneceu com dores na costa. Fizemos radiografia, ele havia fraturado uma vértebra, por pouco não ficou paraplégico. Agradeci novamente por não ter sido pior, ele se recuperou bem mais rápido desse vez do que quando caiu do skate há dois anos atrás - eu queria muito aprender a andar, e logo quando comprei um, meu pai caiu, fraturou o braço, fez um cirurgia no joelho e andou de cadeira de rodas por uns três meses.
Talvez a humanidade seja mesmo ordinária. Somos ensinados a agradecer, porque "afinal de contas poderia ter sido pior". Sim, a humanidade está ordinária e o mundo é um lugar desesperançoso.