Da Grécia ao Nordeste
Ícaro, rapaz greconordestino, tinha um sonho impossível: lançar-se aos ares, percorrer vários caminhos, conhecer novos horizontes... voar!
Com suas asas de cera desafiava o sol do Nordeste. De voos insólitos e, por vezes, solitários, era incompreendido por seus pares.
Cavaleiro alado do dia e da noite, como Alcymar Monteiro, de mente aberta e atitude, não esperava milagres dos céus de Éter.
Latinoamericano, como Belchior, oriundo da Terra dos Vaqueiros, acreditava ser Hemera a luz de seus pensamentos.
Certeza ele tinha: Chronos, senhor do tempo, era seu amigo.
Fogo e água, seu destino!
Oceano que era, procurava sua alma gêmea.
Seria Tétis, a mãe dos rios, riachos, fontes e nuvens?
A inteligente Febe, deusa de todas as formas, profetizou que recairia sobre Ícaro a luz brilhante do céu azul.
Seria a visão de Theia?
Então, a mensagem divina veio com Hermes:
- Guardas no peito um segredo, assim como Jorge de Altinho?
Com força e coragem serás como Ares em busca de tua Afrodite, símbolo do amor e da beleza.
No Coral e no Recanto das Letras, longe de ser Apolo, enquanto espera a amada, curte música e poesia. Desejo, sedução!
Tal qual Dionísio, sorve bons vinhos ao luar de Selene.
Zeus, o todo-poderoso, não lhe permitia voos maiores.
Porque, ao estilo de Gonzaga, cantava a pobreza, as tristezas e as injustiças do torrão nordestino.
Com tanto obstáculo, vez por outra sucumbia a Hades, deus do submundo.
Não possui a beleza de Aquiles, mas, assim com o herói, procura ser melhor em tudo o que faz.
Durante anos fez os doze trabalhos de Hércules. E aí, seguia Zé Ramalho, reforçado na ideia de Geraldo Azevedo:
- Os anos passarão com a certeza que tens no olho; Sairás do poço, da garganta do fosso, pois tua alma é de cantador.
Qual a será a justa ordem de Themis?
Então, um dia, passarinho de Elba, cantou, cantou miudinho... e voou da palma da mão daqueles que não o queriam.
Vitória, como as de Nice!
Agora, como em Héstia, coração e tocha acesa, faz o seu destino, e segue à procura de sua Antheia, deusa morena das flores.
Eis que a vê, em sonho: alma de Psiquê, corpo de Afrodite!
- És tu, vestida em flores?
Cumade Sebastiana, dançando ao pandeiro de Jackson, responde:
- Prudência, é preciso o cuidado de Métis porque tua deusa de alma morena é jovem e verdadeira como Hebe!
Amelinha anteveio:
- Mulher nova, bonita e carinhosa! Sabes gemer sem sentir dor?
Então, tum-tum, bateu, bateu o coração menino dentro do velho peito, como disse um dia Marinês.
Será que levarei dessa vida, coração, o amor que tenho pra te dar?
Geraldo Azevedo asseverou:
- Moça bonita, heim!? Atenção, o beijo dela pode te matar sem compaixão. Pra saber como é que é, só recebendo o beijo assassino nos braços dessa mulher.
Patativa do Assaré no cordel esclareceu:
- Há dor que mata a pessoa sem dó nem piedade. Porém, não há dor que doa como a dor de uma saudade.
E agora, que faço pra conquistá-la?
Sorte oportuna de Caerus ou estratégia racional de Athena?
Buscar conselhos de Eros, o deus grego do amor?
Bem, que os sonhos de Morfeu povoem meu espírito.
Chega o sono de Hipnos, durmo e sonho com você...
O mito é o nada que é tudo
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo (Fernando Pessoa)
Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes é necessário ser um (Fernando Pessoa)