Que a força do medo que tenho

Que a força do medo que tenho

não me impeça de ver o que anseio,

Que a morte de tudo em que acredito

não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito,

a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe seja linda, ainda que triste,

Que a pessoa que amo seja prá sempre amada, mesmo que distante

Porque metade de mim é partida,

a outra metade é saudade.

Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,

Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos...

Porque metade de mim é o que ouço,

a outra metade é o que calo.

Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço,

Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que penso,

a outra metade um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste

E o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável,

Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância,

Porque metade de mim é a lembrança do que fui,

a outra metade não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito,

E que o seu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo,

a outra metade é cansaço.

Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba.

E que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade prá fazê-la florescer

Porque metade de mim é platéia,

a outra metade é canção.

Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor

e a outra metade... também...

Lucas S S
Enviado por Lucas S S em 26/03/2007
Reeditado em 18/01/2008
Código do texto: T425933