E a infância se perdeu.

Sem querer, sem sequer saber, os dias iam passando demasiadamente rápidos e quando dei por mim, a minha infância já havia se perdido. E eu sempre naquela ânsia de criança de querer crescer rápido, contando as horas para ter a tão sonhada “liberdade”, os 18 anos tão esperados, de deixar as bonecas e os mimos (que eu julgava vergonhosos) dos pais para trás. Achava a maior bobagem a história do Peter Pan, imagine só, uma terra do nunca! Quanta besteira. E então o tempo passou. E a menina ficou para trás, ela passou a existir apenas nas fotografias manchadas e nas lembranças quase esquecidas. Abri os olhos tarde demais. Aliás, qual era a liberdade que eu sonhava e ansiava tanto? Liberdade eu tinha naquela época. Qual foi a liberdade que ganhei? De segurar o sentimento dentro do peito, porque esbanjar muito a alegria por ai é vergonhoso? Fale mais baixo! Ria mais baixo! Por que diabos ela está dançando?! Eita, que menina ingênua.

Liberdade tão sonhada, que sequer posso expressar minha opinião sem ser considerada estranha, porque fujo do padrão que a sociedade considera “aceitável”. Liberdade estranha essa. A única palavra que vem a cabeça é: decepção. Decepção porque as pessoas são más. Contava os dias para crescer e entrar num mundo de traição.Se eu soubesse como era dócil o bicho-papão que vivia embaixo da minha cama perto das pessoas, nunca teria reclamado dele. E quão esperto foi esse moço Peter Pan. Como faço pra achar a terra do nunca, alguém sabe? Quero ir correndo para lá, sem olhar para trás. E esse é o mundo dos adultos que as crianças tanto sonham, ai coitada dessas crianças, ai coitada dessa infância que se perdeu.

Estou na linha tênue entre dar o próximo passo e dar tchau para minha criança ou continuar parada, sendo a louca neste mundo sem cor, sem emoção.

E que se dane! Não vou deixar que a podridão entre em mim e infecte minha criança interior. E que se dane se eu for louca. Afinal, ser louca neste mundo de pessoas que não sabem pensar é uma grande vantagem. Ou não.

Fernanda Werner
Enviado por Fernanda Werner em 24/04/2013
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