Confissões de uma atriz (parte 1)
Sinto-me esquecida por aqui.
Como se eu não existisse, como se estivesse longe de tudo. Como se não pudesse gritar, me mostrar, escutar. Como se não soubesse do mundo lá fora.
Sinto-me longe. Longe do meu sonho, ou melhor, perto demais do meu sonho e longe demais da realidade.
E fico me perguntando se ele um dia se tornará ela.
Fico aqui me cutucando, me machucando, me perguntando: Será que algum dia alguém me verá? Será que algum dia alguém me valorizará? Será que algum dia poderei olhar para trás de dizer “Valeu a pena!”. Será?
E aí a pergunta que mais dói: Será que eu tenho capacidade para isso? Será que se o sonho se tornar realidade eu saberei lidar com ela?
Sinto-me esquecida por aqui.
É como se o meu carro tivesse parado numa estrada fria, escura, e sem acostamento, sem vizinhança por perto. E não passasse ninguém para me ajudar a trocar os pneus.
Quero poder mostrar meu talento, quero trabalhar, quero viver de arte, quero mostrar a mim mesma que sou capaz.
Quero alguém que me ajude. Mas quem? Estão todos cegos. Ninguém me vê, ninguém me nota. Só olham para cima. E eu aqui, em baixo, com uma vontade danada de subir.
Sinto-me esquecida por aqui.
Quero um teste. É isso. Um teste somente. Um. Unzinho. Aí então o resto é comigo. Aí terei que estudar, me dedicar e dar o meu melhor. Mas até aparecer esse teste, preciso de alguém para me dar a chance, o famoso Q.I.!
Um dia não me sentirei mais esquecida por aqui. Mas essa ansiedade, confesso, me mata.