A terra dos homens

Olhei e vi a terra dos homens. Era meio esverdeada com um azul forte, não sei. Tinha umas correntes em volta e umas portas de metal. Homens armados com livros guardavam seus grandes umbrais. Vestiam uma roupa vermelha os que na guarda trabalhavam. Olhavam no rosto e no corpo. Perguntavam o nome dos que ali queriam entrar. Não eram engraçados. Procuravam nos livros os nomes. Prosa ou poesia? Não estava ali nenhuma das duas... Pairava no ar um cheiro de desconfiança, de desamor, de traição. As pessoas chegavam, não eram encontradas nos livros, não tinham seus códigos aceitos, os homens eram intolerantes com a simplicidade. É, Olhei a terra dos homens e senti ânsia de vomito. Não sabiam a diferença entre amizade e influência. Não sabiam respeitar as diferenças. Trocavam anos de dedicação e carinho por segundos de prazer. Tentavam, insistiam, até que domavam as feras que lhes eram desfavoráveis. Às que não conseguiam domar oferecia vantagens, bestagens, lavagens, bando de miseráveis, insaciáveis. Vi a terra dos homens, nitidamente, uma lata de lixo onde o sol não olhava, não passeava, ignorava. Ali pessoas eram jogadas, vestiam roupas diferentes das demais: vestiam-se de Branco. Um branco forte, ofuscante, brilhante, não serviam para os propósitos dos homens daquela terra. Um painel gigante, com fundo verde e letras bonitas de um banco central dizia as regras e normas daquele mundo. Ali não se podia pensar, raciocinar e nem imaginar sonhar. Ao lado, uma distribuidora de vidas. Eram dadas gratuitamente em pequenas embalagens plásticas, sujas de lama e com um forte odor que invadia a narina dos seres que as aspiravam. Tomavam os sacos e saiam cambaleando pelas ruas e avenidas fétidas da terra dos homens.

Adriano Paulo
Enviado por Adriano Paulo em 11/04/2013
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