a falta
A saudade agora é dessas que se sentem da coisa que já foi e não volta mesmo. E, se volta, não volta do jeito que foi. Digo das coisas que se prenderam na infância - e infância é qualquer coisa anterior, longe e ingênua - e ficaram com o jeito e o cheiro que a gente percebe quando criança. Essas coisas são as que fazem falta na maneira que nos lembramos delas. São as coisas que nem seriam tão boas se já não estivessem tão distantes e irrealizáveis. São as coisas descoisificadas, que a gente encara com estranheza agora que não se esquece como era e não reconhece como tornou.
Minha saudade de você é da falta que faz falta por antes de crescermos. Outro dia, te vi. No abraço, foi uma falta dilacerante. Um apego descontrolado, estúpido, doente, afogado, desesperado pelo cheiro - que ainda é o mesmo. Mas só meu nariz que te achou. O resto não é mais.
Se eu tapar o nariz, resta pouco, bem pouco. Quase nada.