UM GRITO NO SILÊNCIO

Aconteceu nos tempos de faculdade. Eu já um veterano, lutava contra o cansaço depois de um dia de trabalho, procurando a sala da próxima aula. Até que encontrei. Ao entrar dei de cara com um grupo jovens, já conhecido por falar o tempo todo nas aulas. Entre eles, um, que de acordo com informações, era filho do diretor de uma grande estatal e constantemente “bagunçava” o ambiente ou abandonava as aulas para curtir a companhia de garotas no campus. Creio que nenhum deles, estava na faculdade com objetivos e sim para satisfazer a vontade dos pais. Mas este em especial, que vamos chamar de Rodrigo, me irritava profundamente com suas “brincadeiras” de jogar papel nos outros ou provocar o som do celular durante as explicações dos professores. E justamente Rodrigo, naquela noite, naquela sala, tragava um cigarro de maconha. A visão provocou meus “instintos mais primitivos”, assim segurei no braço dele e esbravejei: “Pô Rodrigo, nada tenho com sua vida ou com suas escolhas, mas entenda que tenho trinta e cinco anos, sou casado, tenho dois filhos, trabalho o dia todo, venho para faculdade me arrastando e cada minuto que passo aqui é um sacrifício. Assim como eu, outras pessoas se sentem ofendidas pelo seu comportamento infantil e irresponsável. Porém, hoje você passou dos limites. Apague este cigarro e respeite o ambiente em que somos obrigados a conviver. Caso queira fumar esta droga nojenta, vá para o seu carro ou para sua casa!” – Disse aos berros. Para minha surpresa, Rodrigo pediu-me desculpas e saiu da sala juntamente com os outros. Confesso que o silencio do rapaz me incomodou e naquele dia fui pra casa pensando nele e na minha atitude.

O tempo passou e outros encontros aconteceram. Rodrigo sempre me cumprimentado educadamente, o que de certa forma me causava surpresa. Incomodado com a situação, esperei um momento e fui até ele. Segurei seu ombro e disse: “Rodrigo, me desculpe. Fui grosso com você. Só peço que tente me entender”. Ele então me olhou e respondeu: “Não “seu” Bira. Tudo bem. O senhor estava certo. Queria eu ouvir do meu pai, tudo o que ouvi do senhor. Pelo menos você me deu atenção”.

Amigos, fiquei sem voz. Sorri sem graça e agradeci com um aceno de cabeça diante da lição de vida que recebi de Rodrigo. Daquele dia, até a formatura, quase todos os dias em que nos encontrávamos, fui presenteado com um beijo do jovem que, simplesmente, queria um pai.