Pesado
Pesa sofrer no corpo certas tensões da alma,
que tatua o seu cavalo, com ferro em brasa;
pinta com cores soturnas a fachada da casa,
finge mergulhos profundos, numa água rasa,
experiência finge anuir mantendo sua calma!
pesa ver nesse mirante rude de cabo a rabo,
a covardia escondida por trás duma bravata;
a verdade em algemas, e o interesse à cata,
confesso que já estremece minha casamata,
sob o impacto da pesada artilharia do diabo;
pesa ver que faltam cavalos para um levante,
soará louco qualquer um que, isso proponha;
só anelos particulares, a galera, ainda sonha,
carência de reses no matadouro da vergonha,
largo estio de valores, e a decência, retirante;
pesa ver a hipocrisia lavar os pés para torcida,
e varrendo o lixo sórdido pra baixo do tapete;
a mídia vai espalhando a esse mesmo macete,
e a quem discordar que se lhe meta o cacete,
porque a ordem agora será uma ordem unida;
predador co’a presa, no jardim de aclimação,
sempre colidiram, ora, fingem certo sossego;
como se pudessem escolher, comum apego,
superaquece então, a produção dos pelegos,
para que lobos desfilem sem chamar atenção;
liberdade nem nota que arma se lhe encosta,
afinal as armas vistosas todas da Grife, Jesus;
sociedade apodrecida e não espreme seu pus,
qualquer que tiver ainda uma centelha de luz,
será um Atlas, com peso do mundo nas costas...