Morreremos

O certo é que entre vivos e feridos, morreremos todos.
Tão certo como hoje eu aqui estou, é que em algum momento do provir aqui não mais estarei.
De alguma forma todos tememos a morte, talvez seja ela, de longe, a nossa maior causa de sofrimento, direto ou indireto. Talvez seja este medo, a força motriz que nos leva a acreditar no impossível. É com certeza ela, nossa maior fraqueza, e nos leva a buscar algo para depois dela.  O que mais me choca e atordoa, é que ela é real, a morte virá para todos, é um tormento que nos machuca, sofremos por ela, mas dela em si nunca experimentaremos. O nosso maior temor, um dia virá, e nós iremos, todos, sem dela, em pessoa experimentar. No exato momento em que a morte chegar eu já não mais aqui estarei para dela experimentar. Enquanto vivo, dela não experimento, quando ela se apoderar de mim, não mais aqui estarei para realiza-la.
 
Morte, divina morte... Não, natural, material e imanente morte. Amazonas que nos acompanha cavalgando sorrateira e despreocupadamente por todo presente. Nossa real e contínua companheira. Desde o exato memento da fecundação, ganhamos uma parceira, parceira esta que nos acompanhará. Sempre cruzará e perambulará por nossas trilhas, mas que jamais a conheceremos de verdade. Apenas a conheço, pelo sofrimento que sinto, quando ela atua diretamente no morrer de meus irmãos em espécie.
 
O triste nesta história, é que podemos morrer sem realmente realizar nossa vida. Isto é triste. Podemos nos ir, sem deixar um pouco de nós impregnado neste mundo. Poderemos ir sem que o mundo sequer perceba que aqui estivemos. O triste é imaginar que desperdiçamos uma vida, única vida, sem a ousadia de marcar presença neste viver, e sem construir nada que possa ser legado digno para meus filhos e também para toda humanidade. 

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 30/03/2013
Reeditado em 30/03/2013
Código do texto: T4214513
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