Um livro a mais
Toda vez que escrevo um pedaço de mim fica nas entrelinhas do poema. E é por isso que não espero que alguém escreva em meu lugar. Minhas histórias são apenas minhas. É um tipo de egoísmo que não tenho remorso de sentir. Quando seguro a caneta meu coração se desmancha em palavras que somente ele pode decifrar, e se meu decifrar é único outros corações não poderiam escrever.
Não quero escrever a história de outro alguém. Também não quero que me coloquem, meio de canto, ali em suas histórias. Se por ventura eu for o personagem de algum poema que ele tenha meu nome no inicio, meio e fim.
Não é justo com meu coração que ele faça parte de um livro cheio de outros corações. Quando escrevo uma história coloco cuidadosamente cada um no seu lugar.
Minha síndrome de exclusividade não culpa corações que passeiam em muitos versos, mas não aceita que seja um trecho pequeno, frase que se posta em qualquer guardanapo ou saco de pão.
Não quero ser aquele verso meio torto, não quero ser rabisco em mesa de bar.
Escrita nenhuma suporta meia duzia de clichês vazios. Não escrevo na história dos outros, para que os outros não interfiram nas minhas. Meus versos, ainda que perdidos e tímidos, continuam sendo meus versos.
Cada história por si só já é uma história única, plágios só duram até a manhã do outro dia, mas ainda não se tornam biografias de cabeceira.
Eu não quero ser uma ou duas linhas das escritas de alguém, mas um capítulo que aos poucos tornam-se um livro que não registra final.