Xícaras
Dezenas de xícaras vazias, quebradiças sobre o chão do meu quarto, em cada uma delas descansa um pensamento. Dias nublados demais, levando embora ânimos, vontades, cores. A chuva escorre em pequenas gotas e seus rastros pintam quadros. Eu deito na cama e fecho os olhos, pensando em vão no passar do tempo. E vento sopra sobre meus cabelos e grilos cantam do lado de fora. Desavisadamente o nada passa por entre meus dedos, corre os dedos pela minha pele, preenche minha garganta. Ouve-se silêncio, toca-se, respira-se e um pedaço de mim desprende-se dali.
Em outros quartos, outros mundos, outros castelos, o tempo passa e a chuva transforma-se em dilúvio. E sobre os diáfanos dedos o vento me transporta. Sonho com a vida, com a distância, com a ida. E dentro de mim, cada xícara transborda.