sentimentos de tinta
Vejo um artista pintando uma linda tela. Ele parece amar cada pincelada que dá nas tintas enquanto tenta retratar o seu apego pela beleza que a paisagem emana. De alguma forma, ele está pintando seu ângulo de vista, que não é dado somente por sua posição na margem oposta do lago. Ali distante de mim ele parece feliz.
Acredito que existem chaves espalhadas para nosso acesso às mais variadas fontes de amor e plenitude. Eu, porém, estou sobre uma ponte, olhando um homem capturando sua paixão pela arte, pela natureza, pela vida. Então passo a desejar aquele dom, pois o homem está em solo firme, já encontrou sua chave, sua poesia, sua bela noiva.
Sempre procurei por padrões perfeitos a seguir na vida, digo padrões como uma espécie de manual de instruções sobre como ser flexível. E nas questões práticas esses padrões podem funcionar, no entanto... Já deu pra imaginar onde devo ter chegado. Esbarrei em algo mais tangível que a logica.
Então me recordo do manual, ao acreditar que pode me ser útil na busca do significado daquela cena. Em suas palavras complexas há um “expert” em PNL( programação neurolinguística) me dizendo que se quero o mesmo resultado de alguém, então devo procurar suas atitudes... Seu ângulo de vista e modelar em minha vida.
Aí tento observar a imagem do quadro através da figura apaixonada do pintor, e vejo uma beleza singular, um sentimento análogo ao que tive ao observar um casal apaixonado no banco da praça. Me surge uma pergunta: O que torna possível o nascimento do sentimento ‘amor’? Será que a admiração veio do que é exterior a si? Ou será que o objeto do amor é apenas uma chave ou estopim para liberação de uma sensação de saciedade proveniente de um desejo já existente na consciência de cada um? Afinal, “ antes de te conhecer eu já te amava”.
Notei que as pessoas predispostas a amar mais do que outras, são como os que cultuam a arte. São só românticos, e isso também é uma classificação do meu manual; não posso tomar isso como referencia para o que estou tentando entender.
Então observo os olhos do pintor e vejo uma subjetividade surpreendente nos sentimentos que irradiam: Na realidade subjetiva das emoções, há uma fonte de pensamentos mais rica do que qualquer livro ou conhecimento já guardado pelo homem. Apenas tentamos, com nossa filosofia, poesia etc..., traduzir as sensações do que estamos sentindo. Percebi então que era isso que ele estava tentando fazer naquele momento. Traduzir a beleza que seus olhos contemplavam.
Já posso produzir mais uma tese com isso, mais não posso reproduzir o que ele sente. Algum dia quem sabe se tiver sorte na vida, eu também conheça as coisas essenciais a minha alma. Uma vez que reconheço que a ponte onde estou, por mais segura que pareça, de repente, venha a apodrecer. Talvez por isso deva encontrar minha fonte e saciar minha sede, ainda enquanto esse solo falso, que me da sensação de firmeza e opacidade, não se despedace. para isso,
acho que vou procurar um pouco de tinta.