Ser quem puder ser. Ser quem quiser ser
No dinâmico processo de viver não são poucos os momentos de exaustão, fadiga e de seca emocional. Embora vivamos num contexto em que somos levados a negar essa condição de fragilidade, ela é inevitável, pois, faz parte de nossa condição de seres humanos; e não existem super homens/mulheres como pretendia Nietzsche. O mais engraçado é que no fundo todos nós queremos mesmo é ser super homens/mulheres. Quem sabe não seja essa a razão do porque praticamente não tenha espaço para as demonstrações de fraqueza e exista tanta cobrança para superarmos aquilo que é natural de nossa condição.
Convivo diariamente com isso; sempre sendo cobrado por praticamente todos ao meu redor para ser mais do que sou. Não existe o entendimento de que como seres humanos, todos, absolutamente todos, carregaremos virtudes e fraquezas. Isso cansa, esgota, mata. Viver a vida na expectativa dos outros é uma tentativa desumana. Muitas das minhas fadigas e feridas são por causa do desejo de ser um super homem; desejo que não surgiu de mim mesmo, mas, surgiu por querer sanar as expectativas alheias. Quem sabe não venha daí meu fascínio por super heróis.
Com tudo isso aprendo que não posso esperar ser entendido pelos outros para viver. Eu nunca serei o que querem que eu seja, porque, o que eles querem que eu seja, não sou eu, mas apenas uma idealização do que eu poderia ser. E sejamos sinceros, a vida não é vivida com idealizações, mas com aquilo que é concreto. Lembro então, duas frases, do Engenheiros do Hawaii, “somos o que podemos ser” e “somos o que dá pra fazer”. Chega de tanta cobrança e insegurança, por não estar enquadrado naquilo que os outros querem que sejamos. É hora de olhar no espelho e afirmar que somos quem somos.
Aqui não afirmo a síndrome de Gabriela ("Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...") e nem defendo a perpetuação de atos que são destrutivos; digo apenas que não é possível mudar por inteiro aquilo que se é por essência. Até por que, se assim fosse, não seriamos mais quem somos, mas seriamos outra pessoa. Deixar de fazer certas coisas, ou mudar hábitos e largar vícios é uma coisa, agora querer mudar personalidade, trejeitos e aspectos que compõe nossa individualidade como ser é outra completamente diferente. E geralmente, quem quer nos mudar não o faz pensando no “eu”, mas sim, em “si”; quem quer nos mudar, na realidade, não quer outra coisa a não ser uma extensão de si mesmo, porque não admite uma existência que seja fora de si.
Descubro então, que o segredo da vida é sempre escolher como se quer viver. “Se não posso escolher algumas coisas, posso escolher como vivê-las”. Não podemos escolher e nem direcionar tudo na vida, mas podemos escolher e direcionar quem seremos e isso ninguém pode tirar de nós. Somos responsáveis pelas nossas escolhas. A vida e ninguém pode impor como vamos viver. E que não vivamos de outra maneira, a não ser, sendo aquilo que podemos ser.
Diante da vida e dos outros, que vivem insatisfeitos com aquilo que somos, brademos em alta voz: “Somos quem podemos ser [...] Somos o que da pra fazer”.