O flagelo de si
 
Nada sabemos do que nos sobrevém, a não ser por pistas.
Sabemos que a colheita virá porque antes plantamos, é uma pista.
Não há garantias, só probabilidades.
Há uma trajetória percorrida com início, meio e fim.


Só sabemos que estamos no meio e que um dia a iniciamos,
pois o fim, como será?
Só pistas.
O meio em que vivemos pode ser o fim, não sabemos.


Não sabemos do tempo.
Não teve começo e não terá fim. 
Não sabemos do tempo que temos ainda.
Só sabemos do que nos sobrevém quando acontece, quando vem.


Aparentemente nenhuma lógica que justifique os contrastes
Mas num olhar mais detido e lá se encontra escondido
O segredo de tudo.
Oculto aos olhares desavisados.


Causa e efeito.
Eis aí a lei que fundamenta tudo.
Somos a causa escondida em tudo que nos sobrevém.
E a nossa vida o efeito.


Nossos dramas e dores.
Meros efeitos de tantos outros dramas e dores.
E aqui estamos, assustados com os açoites.
Não vemos nosso algoz verdadeiro.


Diante dos olhos só os efeitos.
Somos sem que o saibamos,
o flagelo de nós mesmos,
pois o homem é, soberanamente, o flagelo de si.