Ínfimo
Aquela gota sobre a folha,
Ínfima,
A nuvem quase derretida,
Qual fiapo de vida que passa,
Mas deixa seu encanto em algum canto...
A borboletinha que voa de manhã,
Espalhando graça,
Gotículas de chuva na vidraça...
Pequeno besouro, tão perfeito,
Que as asas parecem pintadas
Pelo pincel de um grande artista
De grandes efeitos...
A minoria, desprezada, ignorada,
A que dorme nas calçadas
Com quem ninguém se importa, e quem sabe,
Tenham a alma mais lavada!
Suaves nuances de poesia,
As sombras que aos poucos se transformam
Trazendo a tarde,
A noite, e outro dia...
As coisas que nascem e morrem
À margem de tudo aquilo
Que a maioria considera importante,
Passando despercebidas,
Esquecidas...
Vem e vão sem nenhum grito,
Arrancam-lhes a dignidade
E o direito de existir
Violentamente,
Com os ganchos da maldade!
Disseram-me
Que as minorias
Deveriam ficar à margem
Da vida, da sociedade,
Pois nada tem a dizer
Ou a acrescentar ao mundo...
Devem permanecer no escuro fundo
Da dor, do preconceito e do medo,
Sem serem notadas,
Como as pequenas gotas de orvalho sobre a folha,
As borboletinhas,
Os pequenos besouros
E as nuvens efêmeras
Cuja chuva nem toca o solo!
Só tem direito à vida
Quem é grande, normal, importante,
Quem dita as regras às minorias,
Regras que devem ser seguidas
E jamais contestadas!
Abaixo as pequenas coisas da vida,
Abaixo as minorias,
Abaixo a voz que tenta ser ouvida,
Abaixo as palavras de Cristo
Que disse que somos iguais,
Abaixo!...
Bem baixo,
Por baixo de tudo,
Sob o polegar imundo
Daquilo que chamam justiça!