Anomalia (2008)
Vai e volta. Perambula. Vinícius está a beira da loucura. Mas ainda está consciente. Cai de cara no chão, bate a cabeça. Não possui destreza, firmeza... é uma vagareza! E como é. As vezes se levanta e segue em frente. As vezes fica deitado, olhando o chão, como um demente.
Está parcialmente lá, enquanto a outra metade ficou aqui. E a metade que está aqui e não foi para lá, não é real, só existe na mente conturbada de Vinícius. Mente tensa, assustada, meio paranoica, sabe? Sabe? Sabe?
Vinícius é um caranguejo ermitão que só vai se seu refúgio for junto. Precisa se recolher e arrumar a bagunça antes mesmo da festa acabar, porque apanha se deixar tudo bagunçado. E quando vai bagunçar, bem, quase nunca vai e é quase sempre impensado quando acontece. Mesmo não apanhando mais... ainda não bagunça, não festeja, não dá os passos em direção à porta de saída. Está na casca, no casco. E parece que não vai sair, está cansado.
Escreve mal, não é profundo, não tem vida, porque na maioria dos casos, é tudo inventado, é fingido e mal-criado. As rimas então, nem se fala, são cruas e estão nuas. Nuas que nem as palavras que dirigi aos outros, um papelão previsível, insensível, cru e nu, mas talvez, lá no fundo, onde tudo se mistura e nada se encontra, foi real.
Vinícius acredita em paranóia, paranóia, paranóia. Está sempre sozinho, sozinho, sozinho porque não acredita em ninguém e porque não há ninguém que queira ficar ao seu lado. Por isso, Vinícius chora... e quando chora, chora mesmo. É paranoia, paranoia, paranoia, mas está sempre acontecendo algo pelos cantos, cantos, cantos, duplas de amigos que combinam escondidos, confabulam ou amigos individuais que querem formar duplas separatistas, neutras, e gente que se diz amiga mas se relaciona com seus inimigos. Por isso, ele é meio paranoico, paranoico, paranoico. Está tudo tentando acabar com ele, como se já não fosse o bastante não tentar.
Ele é fã de lixo, ele come coisas estranhas, tem dotes caseiros culinários e tem opiniões deprimentes. Sim, ele pensa em coisas horríveis. Ele não vê a importância, nem o especial. Pra ele é tudo igual mesmo! E lida com a vida de forma horrível. Não. Mas lá no fundo Vinícius sofre com isso, pois as pessoas com as quais se apegou querem que ele entenda que propiciar um ambiente ruim pra ele enquanto eles se divertem com isso é aceitar as amizades como elas são. Vinícius sofre com as pessoas que não ficam ao seu lado quando precisa, e dizem que não podem ficar porque ele é especial como os outros, nada mais, nada menos, nada além dos outros.
Tem pais que bateram, sufocaram, deram chineladas na boca e vassouradas nas pernas, cintadas na bunda e tapas em todo corpo, puxões e empurrões, por organização, limpeza, os outros, e dinheiro que não era dinheiro mais significava dinheiro. Cresceu ouvindo que deveria ter apanhado mais, porém, já não se importava mais. Estava ali.
Ele acorda e manda seus amigos pro nada, e diz que não está satisfeito com os amores e que odeia sua família. Vinícius é uma farsa por isso. Ele deixa de existir por não entender essas coisas e se torna horrível por não correr atrás das pessoas que o desprezam.
No mundo e na mente tortuosa de Vinícius, ninguém vale o preço que pedem. Ninguém está onde deveria estar ou supostamente deveria. Ninguém faz o que faz. Ninguém é alguém, ou qualquer coisa além, pessoas?
Quem sofre mais é quem atura essa anomalia humana Vinícius, ou é Vinícius com a vida que o moldou anomalia? Quem tem o direito de falar dele é quem diz o que convêm dizer, e dessa forma, acabando com a raça dele e com tudo que ele faz, ele também vai embora com C.B., mais cedo do que pretendia.
Ele se sente mal, uma anomalia solitária, um instinto animal no meio de um pote de laquê, onde dias não são claros, noites não são escuras, homens não são animais, e máscaras são a verdade pois não há nada pra mascarar. É onde ele afunda, se afoga e não sai, sai, sai, sai, sai, sai, sai, sai, sai...