Pedaço.

'Tenho um segredo pra você. Vou te dizer o dia em que você me ganhou. Porque foi isso o que aconteceu, você me ganhou. Sem intenção. Mas ganhou. E não foi no primeiro beijo, nem no segundo, nem da primeira vez em que fizemos sexo, nem da segunda, ou da terceira.. Você me ganhou no dia que tudo tava tão cinza, que a única coisa que me coloria era o seu sorriso. Você me ganhou assim, de verdade, no pior dia da minha vida, e que mesmo assim eu dispensei intencionalmente todos os outros sorrisos, por que era só a sua presença que me aquietava, e só seu abraço que me aquecia. Você me ganhou assim, quando todos os outros abraços de repente perderam toda a graça, e eu ainda me lembro de quando você me abraçou e colocou seu queixo no meu ombro. Você me ganhou o dia que me ensinou como deitar no colo um do outro mutuamente. E você me tinha assim, inteirinha, e eu ainda não sabia. Você me ganhou no dia em que eu via que o tempo passava e passava, e repassava, e amassava me lembando de que todo dia eu precisava ouvir tua voz, e quando só eu ria das suas piadas. E você desconfiou que me tinha quando eu falava o seu nome mais vezes que o necessário. E eu desconfiava que você me tinha também, e não fiz nada a respeito. E um dia as músicas me contaram segredos e eu sabia de verdade que você me tinha... Mas acho que não sou legal de ter por inteira... Você me disse, sem palavra nenhuma, que não me queria mais inteirinha. E eu me fragmentei, pra tentar ser o que você precisava, já que você foi o que eu precisei. E eu me fragmentava em cada palavra que machucava e em cada sorriso que você não sorria. E eu fui pedacinho. Fui pedacinho de raiva, de raiva de não ter sido, de raiva de não ter feito, não ter feiro seu mundo girar, de não ter virado você do avesso. Fui pedacinho de carinho. Fui pedacinho de admiração também.. Fui pedacinho de alegria, fui pedacinho de choro. Fui pedacinho de tanta coisa... E você quis me arrancar, você não me quis em pedacinhos também, quis me atirar longe. Mas eu não posso ir, só posso no dia que te tirar de mim. Mas tá difícil de recolher, porque aqui você não é pedacinho. Aqui você invade, aqui você cresceu sobremaneira. Tô tentando, tentando te tirar. Mas não vai ser assim, brutalmente não.. Vai ser mais do tipo cena de filme, te atiro no mar ao som de fragulhos da meia noite, daquele exato jeito, não vou mais ser seu freguês...'

T Barros
Enviado por T Barros em 21/03/2013
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