folhas secas
O passar de uma pessoa marcante pela nossa vida, às vezes é como o mudar das estações; comparo essa mudança na minha história com aquela atividade que sempre faço no final da primavera. Assim como todos que reúnem suas recentes decepções, varro as folhas secas do jardim, que agora, serão descartadas e queimadas sem dó. Até as mais belas flores que enfeitaram e entregaram suas sementes a terra, foram para o fogo. É incrível que após ter certas experiências ruins todos desejem fazer isso. Então onde estará a célebre frase de Vinícius: “que seja infinito enquanto dure”? Se quando queimamos, ainda ficamos lá observando se não vai sobrar algum resquício do passado. O fogo da magoa anula muitas vezes os bons momentos dos amantes separados, que gora um para o outro, são como as folhas secas. Mas as minhas não queimaram direito. Gosto e acreditar que incinerá-las de uma só vez, acaba com a riqueza orgânica que dariam ao meu solo. Mas nem tudo é beleza, diriam os céticos: “temos que evitar cometer os mesmos erros de uma má jardinagem”. Aí regamos as novas flores com uma chuva de preconceitos. Na verdade já cheguei a pensar que seria melhor plantar capim do que rosas, eles já são em sua natureza detestáveis, e, portanto, não correria o risco de me decepcionar de novo com os resultados. Também isso é uma convicção passada. Minha mente não pode viver sem aquele jardim, onde as mais variadas formas de vida surge, onde meus sonhos visitam esses pequenos lagos formados pela chuva. Não falo em resgatar traumas que ferem como espinhos, mas sim naquilo que foi num certo momento, cheio de perfume.