Água Morna (2012)
É estranho como sempre dizemos o quanto odiamos algo e apenas percebemos que era exatamente o contrário depois que já perdemos, que já não temos mais.
Depois de um tempo e de muito pensar é até engraçado pois aquilo que me irritava passou a fazer falta e as coisas casuais que não eram dignas de nota se tornam lembranças extremamente preciosas, e sim, eu sei que todo mundo é assim e eu não sou especial por ter reparado nisso. Hoje, com a consciência que adquiri nos anos que passaram, percebo que todos os meus relacionamentos e meu amor do passado são exatamente assim.
Me lembro de sempre declarar o quanto não gostava disto ou daquilo e de como ela me irritava com perguntas como "você me ama?", porque não importava quantas vezes eu responde-se que sim, que eu a amava, ela nunca se satisfazia e sentia-se segura. Era cansativo... Mas lembrar disso hoje é gostoso. É até engraçado.
Talvez, ninguém tenha conseguido criar novas memórias tão boas de se lembrar como estas, ainda não. Dificilmente ela me surpreendia, ela tinha um jeito todo dela de ser pacata, previsível e não, isso não era algo ruim!
Depois de um certo tempo que terminamos e ficamos afastados (ficamos muito tempo sem se ver) eu comecei a definir aquilo que tínhamos como "água morna". Ela era a água fria e abundante, que refrescava. Eu era a água quente e escaldante, passional. Juntos tínhamos essa estabilidade, tínhamos a vida morna: Nada era muito bom ou muito ruim, não havia lugar para isso ou qualquer surpresa que pudesse arruinar a tranquilidade dos nossos dias tão ordinários.
Eu trazia toda a emoção e revolvia as águas geladas, esquentava a vida com animação. Ela freava meu ritmo acelerado e refrescava minha cabeça quente com sua delicadeza feminina. Ela nunca estava segura dos meus sentimentos e eu nunca estava satisfeito com a vida que ela me proporcionava. Até nas hesitações havia harmonia e cumpríamos nossos papéis. Havia um certo equilíbrio em nós dois. Não posso, talvez ninguém possa negar isso.
Reencontrar esse equilíbrio é difícil, está sendo muito mais difícil do que eu imaginava. É difícil encontrar alguém, alguém que... Não, bobagem, encontrar qualquer alguém é difícil.
Hoje, tudo que me resta é sorrir ao lembrar, pois trago essas lembranças desengonçadas (e maravilhosas a sua própria maneira) que continuam a me alimentar (de alguma forma) e são elas que me impulsionam a continuar atravessando os bons e maus dias.
E assim continuo seguindo meu caminho, sozinho pelas avenidas da vida... Através da eterna espera por um outro alguém...